Será que ela pensa que eu sou algum "cynomys ludovicianus"?!
Agora, meu caro, que estou um pouco mais descansada (ai o seu mastoideu!) mas ainda a precisar de muito mimo, resolvi escolher e activar um sistema de alerta que evite que eu (que sou fada, imagine) me volte a enganar de novo, redondamente... Assim me apareceu, sem se fazer anunciar, em fundo de música de Debussy e em sensualidade de volumes que apetecia acariciar, a única e sempre fada-frágil-guicha, paulitando as palavras e oferecendo-me uma imagem de quatro ratinhos deliciosos e vaidosos. Bah! Se um mastoideu, um sistema de alerta e quatro roedores, afirmei convicto, são tema de conversa para uma fada, vou ali e já volto...; e que fique claro, o mastoideu não é meu! E o que é que eu fiz desta vez? Perguntei-lhe. Ainda não fez nada, esse é que é o verdadeiro problema, mas não é disso, respondeu aos saltinhos, não é disso que lhe quero falar. Quero falar-lhe das características de um sistema de alerta que uns amigos (já ouviu falar no Jim Hare da Universidade de Manitoba?) me sugeriram; sistema de alerta em que esses ratinhos deliciosos (como lhe chama) parecem ser (dizem) especialistas; quanto ao seu mastoideu falamos daqui a uns minutos. Ou me engano muito (e, repito, o mastoideu não é meu), não pude deixar de a interromper, ou está (é o que me parece) a provocar-me, como é seu uso e costume; se assim é, fico deveras aborrecido consigo..., roedor ou predador é que eu não sou, isso não. E, para sua informação, continuei afogueado e sem saber porquê, já li o estudo desses seus amigos e quero lá saber de quem possa ser esse tal de Jim Hare. Os olhos dela desprenderam-se ao desafio no seu rosto gaiteiro, enquanto me dizia, rindo-se feliz de contente (o que eu acho um perfeito contra senso): tenha cuidado consigo porque me parece que está a ter um ataque de ciúmes. Claro que estou a ter um ataque de ciúmes, disparei, e então? Pois não devia, sussurrou, e não devia porque não tem pinga de razão para ter ciúmes e muito menos um ataque. Adiante. Parece que sim que tem alguma razão (por essa razão me tentaram impingir a ideia de um novo sistema de alerta); alguns pensam que o comportamento desses ratinhos é um sinal de alerta para os seus companheiros, com o objectivo de os prevenir sobre a presença de predadores... Mas já enviei aos autores do estudo uma hipótese de trabalho bem mais interessante. Seja: os comportamentos contagiosos são maneiras de avaliar as mentes de outros e de entender uma mente distinta da própria. Se assim pensa, entaramelei as palavras, só falta dizer-me que esses ratinhos têm mente... Nem tive tempo de terminar. Ela disse que era a hora de falarmos do meu mastoideu (o mastoideu não é meu, soprei irritado)...; mas ela fez de conta e, antes de partir, garantiu-me que nunca me imaginou um predador, que eu estivesse descansado mas que o mastoideu era meu, disso ela não tinha dúvidas... Demorou-se mais uns instantes, e com as suas mãos conchas (numa a criatividade e noutra o afecto), num mansinho alisado e alisado e alisado, mimou-me, esbanjando carícias a rodos... Será que ela pensa que eu sou algum "cynomys ludovicianus"?!
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