Bendita dopamina: a simplicidade é a complexidade resolvida
A manhã era ainda menina e já eu acordava atento ao barulho que um malvado bicho da madeira fazia, quando
ouvi dizer num tom ondulante:
pois foi, pois é, pois sim, entendo a sua zanga, desde o fim do mês
passado que não dou sinal de vida; não dou sinal vida, uhm, alto aí
e pára o baile, isso é que dou, dou sinal de vida ao não dar sinal
de vida, seja, inculco em si uma experiência única, esta: a
experiência da percepção do tempo. Se o tempo não existe,
respondi mal humorado, como diabo é possível ter uma experiência
da percepção do tempo? Vi, no
jeito de
quem não quer responder, que a única musa (que muito respeito)
deixava cair um painel com três imagens: uma, a elegância de um corpo/pescoço e penteado de mulher; outra, um bloco de granito feito
beijo; outra ainda, uma leve pena de ave. Painel de imagens curioso, que me quer sugerir? Questionei enquanto olhava para ela com avidez de náufrago. Sorrindo e corando ao de leve, lá foi dizendo que pátáti
pátátá, que eu não podia saber o que aconteceu no
fim de Abril,
que o Garcia da Orta até que tinha razão quando dizia que o que
hoje não sabemos amanhã o saberemos, que a vida é como é, que
eu devo entender...
Não pense que altera as minhas rotinas, interrompi, vou continuar
calado, mudo
e quedo,
e
sei
eu bem porquê. Mais, continuei, percebi a mensagem do painel que
deixou cair, li
o painel - um acepipe para os sentidos -
da esquerda para a direita, e percebi que o tempo é uma construção do espírito, assim: na primeira
imagem, vejo-a si, elegante, altiva de beleza e cheia de si, é
o
presente
passado (memória); na segunda imagem, sinto-me unido a si, presente
presente (intuição); na terceira imagem, a insustentável leveza de
um pássaro no espaço é um sinal que confirma quão fácil é poisar no
seu terraço com horizonte-água, é
presente
futuro (atenção). Sim, disse ela com os olhos grandes (na retina traz sempre uma fogueira a arder) à proa de
um “olha-me este, saiu-me melhor que a encomenda”, céus, acredito no
que ouvi, memória e intuição e atenção fazem a diferença no tempo. Vá lá, disparou metódica, se lê os meus pensamentos, arrisque
um nome para o autor das obras nas três imagens do
painel que lhe ofereço.
Nem pestanejei: Constantin Brâncusi. Também dele,
acrescentei sem qualquer forma de preitesia, conheço uma
espantosa
obra,
a musa adormecida: é uma
maravilha única, um mimo;
saiba
ainda que
concordo com ele quando afirmava que “a simplicidade é a
complexidade resolvida”. Raio
de conversa, trauteou, hoje vim por lã e vou tosquiada, mas bem que
lhe pergunte: o tempo não existe mesmo? Cuidado com a resposta, ainda arranja lenha para se queimar, alertou atrevida. Absorta, emudeceu por uns segundos a modos que para continuar com vagar à pressa. Preparava-me para lhe
responder, e ela: bendita dopamina, verdade (alô, Sofia!; alô, Joe!), é verdade mesmo, o tempo é tão só (tão só é muito, pois não é?) uma dimensão fundamental da nossa
experiência subjectiva; tanto nervosa agora me sinto, vida, porque
será, mas o que é que eu fiz, mora em mim uma espécie de melancolia. Não respondi, estava tudo dito, o meu coração batia num ritmo acelerado apertado nas malhas da razão, de Conrado guardei o prudente silêncio.
Adenda 1
Com memória...
Relendo um texto antigo (e pensando em ouriços e raposas), tomo conhecimento das andanças à volta da contagem de tempo (perdido) de (alguns apenas) professores com um divertido desprendimento: por saber que uns falam outros calam, que uns silenciam e outros apregoam, que uns e outros até mentir mentem se necessário for. Surpresa nenhuma (ainda que curiosa) é não só ninguém se preocupar com o paradeiro do ministro da educação e da sua equipa quanto ninguém se interrogar porque é que um presidente tão loquaz (por tudo e por nada) desta vez nem tenha piado, pior: calou-se à sorrelfa num "moita carrasco" genuíno (popularidade a quanto obrigas!).
Adenda 2 (09/05/2019)
Pode lá ser! O primeiro a contar do fim, isso sim (rimou, ups)!
Adenda 1
Com memória...
Relendo um texto antigo (e pensando em ouriços e raposas), tomo conhecimento das andanças à volta da contagem de tempo (perdido) de (alguns apenas) professores com um divertido desprendimento: por saber que uns falam outros calam, que uns silenciam e outros apregoam, que uns e outros até mentir mentem se necessário for. Surpresa nenhuma (ainda que curiosa) é não só ninguém se preocupar com o paradeiro do ministro da educação e da sua equipa quanto ninguém se interrogar porque é que um presidente tão loquaz (por tudo e por nada) desta vez nem tenha piado, pior: calou-se à sorrelfa num "moita carrasco" genuíno (popularidade a quanto obrigas!).
Adenda 2 (09/05/2019)
Pode lá ser! O primeiro a contar do fim, isso sim (rimou, ups)!
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