A música que viaja (oculta) n´A Última Ceia de Leonardo da Vinci...
Em
ano de Leonardo da Vinci, é tempo de continuar a explorar o tema que
diz que nas obras de arte viajam segredos. Desta vez, n´A Última Ceia de Leonardo da Vinci: o compositor italiano Giovanni Maria Pala diz que se encontra escondida (na pintura) uma interessante peça musical que, ao longo do tempo, sempre passou despercebida. Trata-se de uma curiosa composição musical (estruturada e com qualidade) que pode ser executada: uma espécie de réquiem que acompanha o momento dramático d´A Última Ceia. Para quê, com que fim escondeu Leonardo da Vinci a composição musical? Talvez, quem sabe, porque ele sabia que uma obra de arte se dá como mais real que a percepção, uma obra de arte cria um mundo vivo, habitável. Não um mundo vivo como um organismo vivo, mas como a eternidade da vida - não perecível, não corruptível naquilo que é. Seja: a força própria de uma obra de arte não conhece a sucessão, nem o progresso, nem a cronologia e nem a morte, vale para lá do tempo, a temporalidade própria de uma obra de arte é a eternidade. Assim sendo, esta pintura de Leonardo da Vinci é uma imagem que faz parte do mundo que ela própria cria: envolve o espectador, sai da tela, atrai e absorve através e para além do espaço euclidiano. É assim que a osmose com a obra de arte cria um novo espaço-tempo e cria um novo indíviduo singular: eis, aí mora, a fonte da sua sedução e do fascínio que provoca. Atente-se, agora, na pauta musical que sai da tela (na imagem da tela) como uma coisa real que sempre lá esteve a viajar clandestina. Oculta, mas pronta a desvelar-se a quem na obra de arte conseguir entrar; quando tal acontece, é-se contemporâneo de Leonardo, é estar no pico do presente. O pico do presente é o presente puro, despojado do passado e do futuro pré-concebido. (Registe-se: "estar datado" é permanecer no presente com um lastro inerte e fixo do passado). O pico do presente implica não apenas o despojamento do passado mas implica sobretudo viver na orla do futuro, e viver na orla do futuro é situar-se no movimento da onda que vem do desconhecido: nú, límpido, único. Num e noutra (no pico do presente e na orla do futuro) circulam forças que exercem pressão para se manifestarem: elas são o presente pertinente.
Adenda
Com memória e com a certeza de que o ver original é tocar.
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