TERRA: a elaboração da "teoria gaia" deve-se a James Lovelock
Oh! Oh! Oh! Acabei de ler (e gostei) o seu escrito sobre a nossa conversa de ontem ao pintar da aurora, adorei, ainda agora sinto os seus abraços de vide, adiante, Nossa Senhora! Mas, a ver se a gente se entende, a sua manta de lã merina é minha, muito minha. Enquanto despertava a custo, no silêncio da noite, ouvi-me dizer: outra vez a acordar-me ainda a noite vai alta, não. A única fada para quem o tempo vale o que vale estava de novo juntinho a mim de cabelo apanhado, olhar cupidíneo, linda como uma catleia florida. Pelos seus olhos grandes bugalhados, implorei, preciso de dormir, mas, intrigado, questionei: se diz que a manta é minha como pode ela ser sua? Riu-se, e disse que era uma forma de falar, que não me amofinasse. Tudo bem, seja, concordei. Olhe, segredou, sei que está contente por eu ter vindo, tenho uma surpresa para si, esta: ontem, quando decidi rever este documentário, lembrei-me de algo curioso e intrigante. Sou todo ouvidos, assim como assim, já não vou conseguir dormir, conte. E ela, ataviada numa túnica azul com punhos vincados, espreguiçando-se graciosa na ponta dos pés, continuou: a elaboração da teoria gaia deve-se a James Lovelock; de forma sucinta, diz aquela teoria, que o planeta Terra é um organismo vivo, um ser vivo. Sim, sei, conheço essa teoria, interrompi, conheço essa teoria e até sei que Lynn Margulis não só diz que o conhecimento não precisa de mente e nem de sistema nervoso quanto garante que "Gaia, a Terra fisiologicamente regulada, dispunha de uma comunicação proprioceptiva global muito antes de a humanidade ter evoluído". Pois sim, espertinho, gosto, às tantas até sabe o que é o mastoideu, continuou ela divertida (tinha acabado de tropeçar numa gargalhada espumante), só que não sabe, aposto, que o principal problema da teoria é a clarificação do policromatismo do conceito de vida. Guardei de Conrado o prudente silêncio, não fosse eu debitar alguma fala estólida. E ela: apanhei um susto daqueles quando aqui me vi (rima do catrino!), escondida e a mostrar-me furtivamente numa estátua, a assistir a uma conversa sobre o conceito de vida, esteja atento, céus, e confirmará que também nos vídeos viajam segredos, sou eu que lá estou, sou eu que viajo clandestinamente nas imagens, pode lá ser, que me diz? Que sim, que está lá, que espia a conversa daqueles dois sábios, respondi atónito, enquanto ela me pedia uma xícara de chá verde e uma torrada fina e loira. São só cinco minutos, é para já, disse-lhe. Ao meu ar embasbacado e despachado, respondeu erguendo ligeiramente os ombros como que a dizer: não seja tolo, bem está de ver que me agrada a sua atrapalhação amelaçada, precisa de desopilar palpitações e refrigerar ardores internos, sei que lhe falta brincadeira a rodos, confie em mim, não me vou fazer de arisca, cócegas é que não, não, não as quero... E pronto, o mais não conto.
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