Apreciação cognitiva da arte


 Camera da Letto Vincent van Gogh.jpg
Outubro - 1988, óleo em tela, 72.90cm
Museu Van Gogh, Amsterdão

Quando Vincent Van Gogh estava a pintar o seu quarto, em Arles na Casa Amarela, escreveu ao irmão:
- “Tive uma nova ideia na minha cabeça e aqui está o esboço dessa ideia…desta vez é simplesmente o meu quarto, só que aqui a cor tem a ver com tudo e, dando através da sua simplificação um maior estilo às coisas, pretende aqui sugerir descanso ou sono em geral. Numa palavra, olhar para o quadro deve descansar o cérebro, ou antes, a imaginação. As paredes são de violeta pálida. O chão de azulejos vermelhos. A madeira da cama e as cadeiras são de um amarelo de manteiga fresca, os lençóis e as almofadas são de um limão esverdeado pálido. A colcha é escarlate. A janela é verde. A mesa de cabeceira laranja, a bacia azul. As portas lilases. E é tudo – não há nada neste quarto com os estores corridos. Os traços largos da mobília, de novo, têm de expressar sossego absoluto. Retratos nas paredes, um espelho, uma toalha e umas roupas. A moldura – uma vez que o quadro não tem branco – será branca. Isto em forma de represália pelo descanso forçado que me vi obrigado a ter. Voltarei a trabalhar nisto de novo o dia inteiro, mas compreende-se como é simples a concepção. A tonalidade e as sombras projectadas são suprimidas, o quadro está pintado em traços livres e lisos como as gravuras japonesas…

Eis uma descrição que nos permite compreender as intenções do pintor e que nos faz olhar para esta obra de um modo novo porque damos atenção a pormenores em que, eventualmente, não teríamos reparado. Será apenas isto a apreciação artística cognitiva e que se traduz na apreciação de pormenores e do seu significado? Não, claro que não. Não se trata de apenas ter consciência de pormenores e de mais conhecimentos objectivados: a apreciação cognitiva da arte é um processo cognitivo seguido de prazer, é uma súbita intuição que por vezes se segue a esforços cognitivos.

A intuição súbita surge sempre, inesperadamente, como uma surpresa onde reinam as emoções, verdade? Mas há sempre uma pergunta que fica em aberto, ou seja, se uma parte importante da apreciação cognitiva é a compreensão de uma obra de arte, que tipo de conhecimento é que adquirimos através da apreciação artística?

Porém, tomar como ponto de partida para olhar para a obra de arte, as disposições cognitivas mais que as aptidões e conhecimentos específicos significa, por exemplo, que as crianças de qualquer grupo etário estão sempre aptas a olhar para a arte...
Sem introduções!  

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