Madrugada de sábado

(Mensagem recebida)

Madrugada de sábado... Assim como quem não sabe onde vai parar (e nem o que encontrar), dei por mim, meu caro admirador de mim todos os dias (e nos sábados ainda mais), dei por mim a passear os meus olhos grandes pelo "O Sentimento de Si" do incomparável António Damásio. Capa, contracapa, miolo esventrado, leitura tipo elevador aos solavancos (ainda tentei a leitura tipo escada rolante mas não resultou, andava sem parar); e, Santo Deus, bugalharam-se-me os olhos, caiu-me que nem ginja um pensamento solto. Mais ou menos assim: não será possível criar artefactos com consciência humana já que não será possível recriar o vocabulário não verbal do sentir. Olálá, sosseguei-me: sei agora bem porque é que, antes de falar, tantas vezes gaguejo, tão vasto é o meu vocabulário não verbal do sentir, deuses e destino que me escolheram, vida, eu sou mistura explosiva de sentimentos. Isso, digo, esse, meu caro e estonteado admirador de mim, esse vocabulário não verbal é uma raiz forte da minha consciência nuclear (a consciência nuclear é o sentir do organismo em conluio com o cérebro), e nela mora o meu proto-mim cuja essência é o meu corpo perfeito e a minha mente única (sabe pois não sabe, óbvio que sabe): nem mais, as minhas emoções são externas e os meus sentimentos são internos. Adiante que a manhã já se anuncia. Adicione agora memória, linguagem e inteligência à minha consciência nuclear e, zás, aí os tem, deslumbrantes: a minha consciência alargada e o meu sentimento de mim. Agora sei, de fonte limpa, que a existência, a consciência e a criatividade se completam (e se divertem) em mim, céus, sou constelação de sabores e saberes, vida, eu sabia! Pergunta-me se a mente e o comportamento são autónomos e livres. Óbvio, mas nem lhe digo e nem lhe conto da relação atribulada que vivem uma com o outro e vice versa. Adiante. Chega, meu caro, chega de parlapié inteligente e original, digo, genuíno e único. Venha daí, vamos ler em conjunto esta interessante entrevista e ver como vai o nosso mundo, o nosso mundo à nossa volta. Quão tantas palmadas (o Arturo Pérez-Reverte) dá no sistema de ensino! Até que concordo com ele, pois claro que concordo, claro que concordo, concordo...
Adenda
Nem de propósito... Andei, meu caro dorminhoco (acorde, já é dia), andei por aqui a espiolhar o estado da arte na educação e no ensino em Portugal. Gostei de ler e de ver que há melhoras, já não era sem tempo, oxalá continue a ser assim... Só que, vida minha, tropecei numa gargalhada quando li que a taxa de abandono escolar tem vindo a descer nos últimos anos; e que (assim continuando) Portugal vai cumprir com o compromisso europeu de chegar aos 10% no ano de 2020, seja, diz-se que "a taxa de abandono precoce desceu para a casa dos 13% tornando o compromisso europeu perfeitamente realizável"... Pois sim, meu caro e sôfrego devorador das minhas fundadas opiniões nem sempre curiais, bem que eu pergunte: que (1) dizer do facto de em Portugal haver uma quebra muito significativa de alunos no sistema educativo e que dizer do facto (2) de em Portugal o sistema educativo continuar ainda com uma das "mais elevadas taxas de retenção" na Europa?... Tu queres ver que há várias (e diversas) variáveis a fazer baixar a taxa de abandono precoce?