Eu penso logo engano-me


 (Mensagem recebida)
Sei sim, meu caro, sei que sim, sei que por vezes acontece, ou seja, acontece que quando organizamos a informação e a ligamos aos nossos conhecimentos prévios, é desconcertante, por vezes, a forma como pensamos... Ora leia, demore-se e pondere num texto (a propósito de problemas matematicamente estúpidos) que eu retirei dum livro do Jean-Pierre Lentin:
-Em 1980, no Instituto de Investigação do Ensino da Matemática em Grenoble, um grupo de professores foi sujeito a uma série de experiências tão maquiavélicas como edificantes
Numa quinzena de turmas dos cursos, elementar e médio, puseram problemas do género: num barco, há 12 ovelhas e 19 cabras; qual é a idade do capitão? Ou, então: numa turma há 12 raparigas e 13 rapazes, qual é a idade da professora? Esperavam que a maior parte dos alunos notassem imediatamente o absurdo das questões. Esta prova deixou-os estupefactos. No curso elementar apenas 10% dos alunos responderam que o problema era impossível; todos os outros combinaram os dois dados procurando uma solução. No curso médio o panorama melhorou, mas muitos alunos ainda insistiram na procura duma solução
Discutindo estes resultados preocupantes no decurso dum estágio de pedagogia, os professores decidiram ir mais longe: propõem a outros professores de matemática, em estágio numa sala próxima, um questionário composto por 15 problemas, de entre os quais 13 são “matematicamente estúpidos” - qualquer resposta só pode ser absurda ou inexacta. E a maioria dos professores caíram em todos as armadilhas!” 
Quando somos confrontados com problemas daquele teor, até as regras básicas de lógica, que temos por adquiridas, tendem a subordinar-se a elementos causais, verdade? Eu penso que sim, será que me enganei?! Não!

 Adenda (Nova mensagem recebida)
Nem de propósito, meu caro, esta ideia do "eu penso logo engano-me" aplica-se por inteirinho a umas curiosas declarações (que me deixaram de franja à banda) sobre a aplicação da "nova lei tutelar educativa"... Com que então a nova lei contém apenas algumas "alterações cirúrgicas" relativamente à lei alterada porque é necessária uma mudança mais ampla - "a questão da saúde mental nestes miúdos é a questão mais importante e nós não tivemos capacidade para a propor" - ? Mas (pasme-se) uma das alterações cirúrgicas é introdução na lei de "uma forma próxima da liberdade condicional (supervisão intensiva) que permite aos jovens cumprirem metade da medida cautelar numa casa de autonomia, sujeitos a supervisão e a um conjunto de regras... Oh, oh. meu caro, é bom que se entenda que "as casas são criadas na lei, só têm de ser concretizadas".,,, quando forem concretizadas, óbvio, digo eu que não sou de me calar. Mas digo-lhe mais, meu caro, digo-lhe que há gente que precisa de estudar antes de debitar "alterações cirúrgicas"; estudar sim (foi o que eu disse), e talvez começando por aqui... É que se não estudarem e se apenas continuarem a pensar, enganam-se e enganam-nos, pela certa!

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