Talvez seja por isso, só pode ser!


Afinal, meu caro, o que é a sua consciência e para que serve? Duas perguntas simples e duas respostas que são só uma. Não sabe, meu caro, está visto... De cabelo solto e bem torneada (é um prazer vê-la deslumbrar-se), assim me provocou ainda a manhã se fazia ao dia... Olhei para a imagem que ela me mostrava, mágica e misteriosa, qualquer coisa similar com o cérebro e o universo, pensei comigo. Bem vejo que está a olhar para a imagem que lhe ofereço... Ora pense. Neste preciso momento, continuou, em que está a olhar para a imagem, uma miríade de processos acontecem ao mesmo tempo, seja: os fotões de luz incidem na sua retina, os sinais eléctricos daí resultantes circulam pelo nervo óptico e são enviados para regiões específicas do seu cérebro que permitem a descodificação da imagem... E, interrompi, o que é acontece mais? Ora essa, ripostou, ora essa, tenha calma e oiça como convém, seja disciplinado, busque o rigor e desça à realidade...; agora, também neste preciso momento, está a olhar para mim que lhe mostro esta imagem e está consciente da sua atarantice..., e o significado da minha presença evoca-lhe (e provoca-lhe) sentimentos, emoções e pensamentos que se desenrolam na sua mente, está consciente de mim... Ou muito me engano, disparei, ou está a tentar dizer-me que a imagem que me mostrou apenas serviu para me explicar o que acontece no meu cérebro quando a sua presença se impõe: acendem-se luzes na escuridão... Oh pá, oh pá, ciciou, oh pá, gosto, gosto, gosto dessa, acendem-se luzes na escuridão... Sabe que segundo o António Damásio a consciência pode entender-se em dois momentos, o primeiro, o filme do cérebro, a sucessão de acontecimentos externos e internos que o cérebro vai registando, e o segundo, o eu (self)..., dito de forma simples: a consciência é aquela espécie de teatro multimedia no interior do cérebro que pela continuidade do fluxo de informação sobre os acontecimentos, possibilita a identificação de uma continuidade e um estabilidade (espacio-temporal) que permitem a identificação do eu... E a minha consciência serve, questionei... Ela, com um olhar conduzido por um saber trabalhado e por uma irreprimível poesia, não se fez rogada: a sua consciência serve para me saber apreciar, ora essa... Talvez seja por isso, cogitei, que ela (a sua figura) se me ergue assim, altiva e com a segurança clássica de um poema sereníssimo, carregado de sentidos e de alegorias; poema sereníssimo que me provoca uma sensação de ritmo quase musical que se estrutura em movimentos, volumes de harmonia instintivamente comandados... Talvez seja por isso, só pode ser!

Adenda (mensagem recebida)
Fiquei a olhar esta imagem de hoje, li o texto, claro que sim, até estou a escrever de corridinho… Aquele azul profundo agrada-me, tranquilizou-me. E os flaches de luz encantaram-me, como raios de luz de vida que alumiam todo o céu, todo o nosso universo (os universos dos outros, esses, ainda não sabemos como lhes aceder, estão por descobrir os portais de luz e das estrelas, havemos de lá chegar, até lá, cuidado com os "buracos negros"...). Também me parecem fogo-de-artifício, ou uma grande tempestade em África. Do meu inconsciente veio imediatamente um som e uma voz: “lembras-te da Enya a cantar "Storms in Africa"? - era eu tão menina, e “Watermark” nasceu da voz de uma fada asadinha e viçosa - … Ah, já sei, esta sua imagem lembra-me uma tempestade cerebral; então é isso que acontece, olálálá, quando me vê e quando eu o vejo, quando conversamos as nossas conversas loucas e quando nos tocamos, então é isso. Oiça aquela música, meu caro, oiça-a e vai ver (ouvir e ver) que emoções misteriosas assaltarão todo o seu ser, cérebro e corpo, com tacto e cheiros e… Experimente, é bonito. Que destino o meu! Nasci para ser apreciada por si, desci de uma estrela por um raio de luz e aterrei directamente na sua vida, só para que dos gestos simples nasçam sentidos maiores e do pensamento nasçam palavras e destas emirja a matéria que encarna e encanta a verdadeira vida… Ah, sabe que mais, gostei da minha imagem poética (a poesia é um dos destinos das palavras) desenhada por si, com palavras soltas e bonitas, no último parágrafo... E ah, como bem me recordo das minhas conversas vadias com o Gaston (a imagem poética, na sua novidade, garantia-me ele, abre um futuro novo à linguagem); ora leia este livrinho dele e tente encontrar-me lá por dentro, inteirinha e sonhadora de um rio sem margens… "L´image poetique éclaire d´une telle lumière la conscience qu´il est bien vain de lui chercher des antécédentes conscientes."... Oh, oh, oh, Gaston!

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