Poderia eu desejar um acordar mais feliz? Claro que não!

Olhe bem para esta imagem....Que lhe parece? Concorda com a forma de dilatar o tempo para viver? Claro que concorda. Sabia que a frase é do Daniel Pennac, um meu excelente amigo? Tinha que ser, pensei comigo, já tinha saudades da única fada que não dorme sem sonhar, me acordar com perguntas em madrugadas de frio, e me rapinar (sem cerimónias) a fofa manta de lã merina branca, para se enroscar (enroscadinha) tal qual gata siamês felina... Tantas perguntas ao mesmo tempo, rumorejei imitando notas de pássaro madrugador e quesilento; claro que admiro, desensonei-me para me explicar, as qualidades humanas e profissionais de Daniel Pennac e até conheço a bem pensada "una lezione d´ignoranza"... Surpreendeu-me, meu caro, estou deveras deliciada consigo, interrompeu-me de mansinho e rosto sorridente, estou siderada com o seu saber sobre o Daniel... Eu estava tão vaidoso com o elogio (tão raros eles são...) que retive apenas um leve bosquejo do que ela me ia contando de cabelo apanhado e pescoço chamativo: estou agora a reler o primeiro livro que Gabriel García Márquez escreveu, e ouvi que hoje Charles Aznavour faz noventa anos e que (imagine só) dá um concerto em Berlim e, olhe só, diz que tem intenções de celebrar o centenário..., é um sempiterno "enfant terrible", pois não é?! Em jeito de resposta e enquanto as minhas mãos se divertiam com os seus pés descalços, perguntei-lhe se a longevidade e a criatividade de Gabriel García Márquez e de Charles Aznavour teriam algo a ver com o pensamento de Daniel Pennac. Claro que sim, ciciou docemente e baixinho, claro que têm; mas, meu caro, ponha agora os olhos em mim (em mim que em si provoco ecos), demore os seus olhos em mim, insistiu, que sou o seu tempo de ler e o seu tempo tempo de amar, e não se iniba e nem se acanhe: inscreva-se como candidato ao meu afecto, leia-me em braille, aninhe-se comigo e sentirá a madrugada húmida a dilatar rosa e o sol quente a despontar rubro, para viver e viver com muito mais tempo... Poderia eu desejar um acordar mais feliz? Claro que não!