E a voz do meu espírito, silenciosamente, aninhou-se nela

Euler_Identity
Tenho andado atarefada, meu caro, tenho andado atarefada cá comigo; e se quer que lhe diga, tenho andado mesmo muito apreensiva... Madrugada alta, neste dia do Pi e data de aniversário do nascimento de Einstein, interrogava-me sobre o que teria provocado a minha incapacidade de escrever; o "tenho andado muito atarefada" (da fada que sabe de certeza onde (e porquê) nasceu esta minha incapacidade de escrever) deu-me algum alento quando ela me abanou de mãos livres e trôpegas; perguntei-lhe em jeito de provocação: é neste seu doce "tenho andado muito apreensiva", que devo procurar a razão de ser desta minha incapacidade de escrever, é nele que devo procurar o fino fio que se partiu no meu espírito aflito por querer saber (o que já sabe...)? Talvez, talvez, respondeu-me, de rosto lindo afogueado e olhos de água amorosa... Talvez?! O que é que eu fiz agora?! Não pude deixar de exclamar, tremendo ao de leve. Olhou-me na forma de quem tem algo a dizer-me de si (mas que ainda prefere guardar em segredo), e eu respeitei  a sua opção; e, mudando rapidamente a expressão do rosto, ciciou-me em aconchego e em voz sussurrante, com quem (espraiada e convidativa) cinzela e embala saber: então não é que o meu amigo Semir Zeki (mais um outro seu amigo, arranhei-me por dentro, malditos ciúmes...) me garantiu que eu tenho os mesmos ingredientes que a "Equação de Euler"? Faz sentido, pensei comigo, ela tem mesmo que andar atarefada (ela disse mesmo a-ta-re- fada?!), e tem que andar apreensiva, lá isso tem, creio que tem... Nem me deixou concluir o pensamento e, soletrou-me à queima roupa e intrépida-elegante: a equação de Euler é algo de grande beleza, não admira que o Semir pense o mesmo de mim; a beleza da equação (gostou de a apreciar em fundo musical?) resulta da sua simplicidade, simetria, elegância e duma expressiva manifestação de verdade, sendo a abstracta qualidade da matemática em que ela se expressa um pináculo de beleza. Calei-me a admirá-la de soslaio mas fixamente..., estava linda de viver (quero lá saber o que ela prefere guardar em segredo!)... A sua figura de beleza, serena e curvilínea em vestido verde limo, arrebatou-me em desafio de instante a transpirar frescura voluptuosa..., e a voz saudável e liberta do meu espírito, silenciosamente, aninhou-se nela!

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