Transferências

Um tema muito interessante e que merece uma pesquisa atenta é o tema da vinculação
Desde 1950, que a vinculação (fundada nas investigações de John Bowlby sobre a relação precoce que se estabelece entre mãe/filho) é um tema na ordem do dia e que, dito de uma forma simples e extrapolada, também se pode definir assim: quando dois seres estão enamorados, a simples percepção de um, captura o outro e encanta-o. Trata-se, dizem, de uma biologia sem matéria onde a imagem, o som e a escrita de um, o seu rosto e a sua vocalidade (e até as suas memórias afectivas) são suficientes para chegar ao outro.
Penso tratar-se, isso sim, de uma biologia periférica a dois corpos que cria uma intersubjectividade, onde o mundo mental de um, dando forma à escrita, à mímica, aos gestos e aos sons e, com isso, exprimindo afectos, modifica o mundo mental do outro e desencadeia sentimentos e emoções absolutamente inesperados. A emoção de um transfere-se e age sobre a emoção do outro.
É este tipo de transferências que explica o fenómeno do contágio das emoções; e é com estas transferências que os “especialistas/práticos do vínculo” explicam biologicamente a intersubjectividade. Pois sim, mas digo eu: quem tiver a coragem de explicar a sensação de deliciosa captura, onde um não consegue nem quer desvincular-se de outro, que se chegue à frente.
Deliciosa captura é o meu jogo preferido; não seja estúpido, abandone as formas monótonas de estar e deixe de brincar com as ideias, estou eu a ouvir dizer agora a omnipresente fada sábia. Quando tiver dúvidas sobre magnetismos ou transferências de “fluídos magnéticos afectivos”, pergunte-me; ou ainda o mando dar uma volta para caçar gambuzinos. Claro que perguntarei, disse eu, mas já agora responda-me:
porque é que a sobrevivência de uma espécie está ligada à sua capacidade para activar o seu poliformismo?
Sorriu e disse: eu sou um exemplo de uma espécie com enormes capacidades polifórmicas, sou a resposta a essa pergunta; e, já agora, pare de pensar que eu não sei que, na sua terra,  os gambuzinos se chamam cagalumes. Vamos jogar o jogo da deliciosa captura de que eu tanto gosto, brincando com os poliformismos das palavras?
Óptimo! Podemos começar, disse eu.
A Ideia de Justiça é um livro de um autor de que as fadas gostam; o sobrenome desse autor é SEN, qual é o primeiro nome? 
AMARTYA, respondi de imediato e sem pensar.
Capturado outra vez, reagiu ela com uma deliciosa e sonora gargalhada!

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