A filosofia e a poesia são as duas tensões polares que animam a voz humana
(msg recebida)
Não consigo esquecer, vida minha!, a Alita do filme "Alita: Anjo de Combate". Que maravilha!, também nos olhos dela leio estranhezas de mim como sou e estou na vida. Dei comigo, olhe só!, a dizer-me de mansinho: depois de ouvires o que ela diz - "sou Alita, não mais terei medo" -, atenta nas características do seu corpo cibernético e da sua voz clonada. Porquê? Ora essa, porquê?, para escrever esta mensagem, olha a novidade, adiante. Para começar, pondere, primeiro, na imagem acima (pormenor de uma obra "Retrato de um coração” (2013) de Christian Schloe); e, logo depois, leia um estonteante pensamento de Bento Espinosa: "Quem tem um corpo capaz de muitas coisas, tem uma mente que, considerada em si mesma, possui uma grande consciência de si, de Deus e das coisas. Assim, esforçamo-nos, nesta vida, sobretudo, para que o corpo de nossa infância se transforme, tanto quanto o permite a sua natureza e tanto quanto lhe seja conveniente, em um outro corpo, que seja capaz de muitas coisas e que esteja referido a uma mente que tenha extrema consciência de si mesma, de Deus e das coisas." (Espinosa, Ética V, Prop. 39). Com a imagem do pintor C. Schloe e com o pensamento do filósofo B. Espinosa em fundo, debruce-se sobre um esquisso de um meu pensamento poético": o corpo e a voz são anteriores à linguagem, a linguagem, sustentada por uma gramática, é uma área opaca, dentro e fora de nós, é uma área opaca que determina a nossa forma de pensar e agir, o corpo e a voz manifestam-se sem gramática quando a linguagem fala. Deus meu!, Senhora dos aflitos!, acabei de entrar na sua mente, que baralhação por lá anda, pense comigo enquanto se acalma: devemos tentar repensar do zero o que fazemos quando falamos, devemos mergulhar nessa área opaca, devemos deixar de lado o vocabulário e a gramática, devemos questionarmo-nos sobre o uso que fazemos do nosso corpo e da nossa voz enquanto as palavras parecem sair dos nossos lábios sozinhas. Quer um exemplo do que me acontece a mim? Muito bem, aí o tem. Quando trauteio (ipsis incluindo o Ç) - "obrigada, obrigada, obrigada do coraÇão" - é quando o meu corpo e a minha voz que se manifestam a dizer palavras sem gramática; e, nesse dizer poético, sinto, atónita, que o meu corpo fica em modo pele de galinha e sinto que a minha voz ressoa em silêncio musical. Como diz? Que, quando assim é, a linguagem deixa de ser o sinal de um conceito da mente porque, antes da linguagem, há um corpo e uma voz? Eureca!, isso mesmo, nesses instantes, o meu corpo e a minha voz são um corpo e uma voz em fuga para não se sabe para onde, para um onde fora de qualquer identidade gramatical e de qualquer léxico definido, e uma força, que povoa a minha mente e as minhas ações, desvela-se emocionada. A sério?! Diz-me que linguagem é, nesse mesmo tempo, um pedaço de carne e um dispositivo abstrato de pensamento?, que é na voz (que só pode ser articulada graças a essa mesma linguagem) que se estabelece o misterioso encontro entre o corpo e o pensamento, entre a matéria animal e o espírito desencarnado da linguagem? Gosto, gosto e gosto, adoro!
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