Estátua harmoniosa: bela, lúcida, silenciosa


Ontem, com dificuldade em dormir, imaginava eu a estátua (imagem acima) plantada numa das milenares ilhas da Região Autónoma dos Açores-Portugal - amanhã é dia de eleições regionais nos Açores -, convidando os açorianos (e as açorianas) a fazer silêncio para, neste dia de reflexão, antes de decidirem o seu voto, ouvirem a água falar sobre o futuro. Eis que, sem se fazer anunciar, a minha consciência me interrompe, dizendo que serão as açorianas a decidir as eleições nos Açores e que o silêncio não existe. Como é que é?! E ela: que serão as açorianas a decidir é uma verdade demasiado evidente, não carece de explicação, que o silêncio não existe, bem, aceito que sim, que é muita areia para a tua camioneta entender porquê; aí vai: o silêncio não existe, porque o silêncio é o constante rumor de um tempo inicial e limpo - uma radiação cósmica de fundo - que se mantém desde quando, há 13,7 bilhões de anos, aconteceu o Big Bang. Embasbacado, nem tugi e nem mugi, e ela, guicha e divertida: mas mais, as observações do satélite "Cobe", que permitiram medir a radiação fóssil do Big Bang, possibilitaram, em 1992, a divulgação do primeiro retrato do Universo bebé, quando apenas tinha 380.000 anos. Essa divulgação fez furor por esse mundo fora, vida!, era um mapa oval, uma espécie de ovo cósmico em tons azuis e rosa, que lindo! Armei-me em esperto, e: esse primeiro retrato, para lá da sua beleza (o que já é muito e muito muito), prova a teoria do Big Bang e explica o ser do Universo como o conhecemos: com galáxias espalhadas por todo o lado. Mas que espertinho me saíste!, suspirou encantada, sabias que essa descoberta valeu a John Mather e a George Smoot o "Prémio Nobel da Física de 2006"? Não sabia, respondi rápido, ouvi dizer, isso ouvi, que, no Universo com 380 000 anos, essa radiação era luz ultravioleta e que chegava quase aos 3000 graus Celsius e que foi arrefecendo, à medida que o Universo se expandiu, passando pelas cores do arco-íris. Adiante, atalhou ela afoita, adiante que agora sinto que sei que sabes o porquê desta nossa conversa neste dia de hoje. Sei?!, não sei! Claro que sabes! No mundo em que vives, a consciência é a radiação cósmica de fundo do nascimento das estrelas e eu, que sorte a tua!, sou a radiação cósmica de fundo do nascimento de uma estrela ainda desconhecida, comemoro hoje o meu nascimento, sou prima direita da belíssima "Earendel", gosto dos números 1 e 3 e 7 e 13 e 137, e céus!, adoro  flores e mel e sol. Depois do que ouvi, afundei-me, sereno, na almofada, e dormi a noite inteira. Tudo principia.

Adenda, com memória.

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