Do "Belo Musical": tem a música um conteúdo?

(...) "Tal é a sua questão mais candente, desde que existe o hábito de reflectir sobre a nossa arte. Foi decidida pró e contra. Vozes importantes afirmam a ausência de conteúdo da música, vozes que, na sua quase totalidade, correspondem a filósofos: Rousseau, Kant, Hegel, Herbart, Kahlert, etc. São incomparavelmente mais numerosos os lutadores que defendem o conteúdo da música; são os genuínos músicos entre os escritores e são secundados pelo grosso da convicção geral. 

Quase pode parecer estranho que justamente os que estão familiarizados com as determinações técnicas da música não consigam libertar-se do erro inerente à opinião que contradiz uma dessas condições, que se poderia antes perdoar aos filósofos abstractos. Isso deve-se a que muitos dos musicógrafos se preocupam neste ponto mais com a honra putativa da sua arte do que com a verdade. Combatem a doutrina da falta de conteúdo da música não como uma opinião frente a outra opinião, mas como uma heresia perante o dogma. A concepção contrária afigura-se-lhes como uma incompreensão indigna, como materialismo grosseiro e insolente. “Como, a arte que tão alto nos eleva e entusiasma, a que tantos nobres espíritos dedicaram a sua vida, que pode servir as mais sublimes ideias, estaria oprimida pelo anátema da falta de conteúdo, seria um mero joguete dos sentidos, zumbido vazio!?”

Com semelhantes exclamações, tantas vezes ouvidas e que geralmente se proferem aos pares, embora uma frase não corresponda a outra, nada se refuta nem demonstra. Não se trata aqui de nenhum ponto de honra, nem de uma insígnia de partido, mas apenas do reconhecimento da verdade e, para a esta chegar, importa sobretudo estar elucidado acerca dos conceitos que se contestam.(...) 

Aqui o pensamento de Eduard Hanslick (1825-1904): com música (animada) e com memória (a propósito).

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