No rescaldo das "Jornadas Arqueológicas-Fundão, Os Tempos na Paisagem"

Enquanto conduzia, estrada fora e noite adentro, depois de ter estado presente nas "Jornadas Arqueológicas-Fundão, Os Tempos na Paisagem", em 27Jan2024 (na imagem acima a estátua-menir de Corgas), pensava comigo se teria valido a pena nelas ter investido um sábado de inverno soalheiro, nelas ter gasto um dia de sol muito bonito. Respondi-me que sim, que tinha valido a pena, não faltaram surpresas agradáveis e o tempo correu solto e leve. Por quatro razões.

 A primeira, porque tive a oportunidade de rever algumas pessoas de quem gosto, e de, com uma delas, ter desbravado uma desavença relacionada com a preservação de um determinado sítio arqueológico. Não fiquei convencido com as explicações que me foram dadas, a lei é muito clara: "No art. 48.º da Lei n.º 107/2001 de 8 de Setembro, fica claro que nenhum imóvel classificado ou em vias de classificação, em parte ou na totalidade, poderá ser deslocado ou eliminado do lugar que ocupa, salvo se for julgado imprescindível por motivo de força maior, como manifesto interesse público ou necessidade de salvaguarda do mesmo." A segunda, porque, tendo hermenêuticamente presente a diferença complementar entre objectos e coisas em arqueologia (nos objectos-achados viajam segredos e as coisas falam), terei tido (imagino que sim) uma primeira aproximação aos artigos - algumas ou todas as comunicações apresentadas (inteligentes e sem rosário de queixumes) - que deverão integrar o próximo número da excelente revista "Ebvrobriga" do Museu Arqueológico José Monteiro do Fundão. Entre outras, merece realce especial a mui bem organizada comunicação "Que tipos de uvas foram utilizadas para fabricação de vinho na adega romana da Torres dos Namorados?, de Ginevra Coradeschi. A terceira, porque durante as "Jornadas Arqueológicas" se mostrou como se poderia utilizar a "Inteligência Artificial", através de ChatGTP-português, como uma forma de promover criativamente o conhecimento e a valorização (participativa) dos sítios arqueológicos no território do Município do Fundão: uma das formas de olhar para os sítios arqueológicos como eixo de desenvolvimento rural; um bem cultural é um bem económico (no novo PDM-Fundão, de 20 de Outubro de 2023, estão identificados 322 sítios arqueológicos). A quarta, porque se aventou a hipótese de, em 2024, ser recuperada a pouco conhecida "Rota dos Castros-Fundão", que, em 2004, assim foi identificada: "A Rota dos Castros é um percurso organizado com sinalética no terreno, e em cada um dos nove povoados pré-romanos. Há um livro-guia sobre o Roteiro dos Castros com informações geográficas, cartográficas, históricas e utilidades várias. Prevê-se a instalação do Centro de Interpretação dos Castros do Concelho do Fundão, no Castro de São Brás."

No entanto, em 2004 e em 2024 a "Rota dos Castros-Fundão" não pode ser a mesma coisa (nem a que foi pensada e nem a que é (ou não é!), terá de ser muito diferente. Vinte anos já passados, ainda que a mesma se possa tornar um bico-de-obra, é possível - em passo firme e decidido e remando contra ventos e marés - ousar pensar e concretizar e dinamizar uma "Rota dos Castros-Fundão", muito mais qualificada em caminhos e atalhos - e muito mais amiga das pessoas e especificamente dos professores(as) e dos alunos(as) das escolas (também em experiências imersivas) -, recorrendo à inteligência artificial como uma inovadora ferramenta de trabalho. Aqui fica um exemplo inspirador. Dizia Ramón Y Cajal (os seus estudos descritivos da organização do sistema nervoso foram a base da teoria neuronal, a qual defende que o sistema nervoso é formado por células individuais (neurónios) e que não existe continuidade citoplásmica entre elas; foi ele pioneiro em afirmar a especificidade dos neurónios, em distinguir axónios de dendrites e em falar dos contactos entre células antes de estes serem cunhados como sinapses") que "a pátria não é apenas o lar ou a terra, é também o passado e o porvir, ou seja, os nossos antepassados remotos e os nossos descendentes distantes".

Soubesse eu de poesia!, em soneto, quarteto ou ode elogiaria quem preparou e organizou e dinamizou as "Jornadas Arqueológicas-Fundão, Os Tempos na Paisagem", soubesse eu de poesia, mas não sei. Por tal facto, o meu rasgado elogio é tão só obra de enxada em terra dura. Poeta não é qualquer, nem quem quer, não adianta quebrar a cabeça a tentar o impossível. 

Adenda 1 ..., com memória e ainda mais (a quem possa interessar).

Adenda 2..., e também e ainda.

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