Sete anos de pastor Jacob servia


Vi e ouvi, com atenção, a entrevista a Marcelo Rebelo de Sousa no dia em que ele completou sete anos de mandato como Presidente da República Portuguesa. Ao longo da entrevista, dei comigo a pensar que não estando na moda e nem nas conveniências abrir os olhos e dizer em voz alta que o rei vai nu, fez bem o Presidente da República em mandar os salamaleques às malvas e dizer que não só o rei vai nu: também a rainha e as princesas e as açafatas, e os bobos e os anões e até os pregoeiros e os bispos. No fim da entrevista, ruminando em tudo quanto foi dito (o mundo da mente é uma caixa de surpresas: é um feixe de experiências ou episódios mentais em constante mutação e psicologicamente contínuos), recordei a primeira quadra de um soneto de Luís de Camões: "Sete anos de pastor Jacob servia/Labão, pai de Raquel, serrana bela/mas não servia ao pai, servia a ela/e a ela só por prémio pretendia". Muito bem!, exclamou a minha consciência crítica, está alegoricamente muito bem recordado, está sim senhor, seja: Jacob é o Presidente, Labão é o Governo, Raquel é a República. Embatuquei.

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