As linhas são uma forma de trazer as coisas de volta à vida



Quão tanta saudade!, vida minha!, quão tanta saudade eu tinha de te azucrinar o juízo, sou assim, de nascença, que se há-de fazer!, adiante. Concentra-te. Medita um pouco mais na matéria epicuriana de que foi feita a nossa conversa de ontem e saberás que estou aqui ao teu lado neste lugar com árvores, com muita água e com pessoas calmas por perto, tipo jardim de Epicuro. Decidi falar-te hoje na importância das linhas, algo em que, diga-se de passagem, sou soprana exímia. Não pode ser!, belisquei-me, terei ouvido mais uma outra vez a voz de mim que bem conheço? Quero lá saber!, descansei-me, vou entrar na conversa e logo se verá o que acontece. O Tim Ingold, continuou a voz sem ligar ao meu pensamento, escreveu, a propósito da importância das linhas, um curioso livro em que trabalha as bases de uma nova disciplina, a arqueologia antropológica da linha. O quê?, ripostei, até parece que estamos sintonizados, então não é que, há vários meses já, ando às voltas com este artigo desse tal Tim Ingold? Que difícil, mas que interessante é!, conheces?, que me dizes? Que há conversas (como esta nossa deliciosa conversa em linhas) que são uma forma de trazer as coisas de volta à vida, respondeu em tom modelado por ourives. Estremeci com a rapidez da resposta, ponto, digo, linha.

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