Naquilo que é mais importante, sempre avançamos praticamente às cegas










Vamos lá então conversar em silêncio, que te parece? Vamos lá conversar em silêncio?!, fiquei mudo e quedo, a minha consciência àquela hora tão cedinha com uma provocação daquelas, que sina desalmada a minha!; eu, moita carrasco, e ela: que lerdinho!, se te demorares na cariátide beleza da imagem que te mostro, saberás que o silêncio do mármore é elegante e sábio e que fala. Siderado, nem a boca abri, pela certa algo mui estranho estava acontecendo comigo, mesmo assim, dispus-me a ouvir o que o silêncio do mármore tinha para me dizer, e ele não se fez rogado, disse que “perder a cabeça é estar consciente que na vida muita coisa pode correr mal, porém, tal não invalida que seja uma norma kantiana abrir asas, mantendo-nos despertos para os momentos de flutuação ondulante de pensamentos e de calma e de beleza: cientes dos perigos e tragédias da existência, importa saber sentir prazer com um dia ensolarado e tranquilo e com as flores bonitas que nos espiam de um muro antigo a abarrotar de memórias, há que aproveitar em pleno tudo aquilo que é sereno e pacífico e tranquilo, até mesmo o que uma encantadora e deliciosa nesga de saudade nobilíssima traz à tona ao pôr do sol, um dia sem ansiedade é sempre algo a ser comemorado, mui bem o mostra a "sonata de Vinteuil" de Proust.”. Belisquei-me, mas não entrei em pânico; ladina, a minha consciência veio em meu auxílio, e: eis-te encurralado numa ardilosa sensação de experiência pessoal, sabes agora quão tão saudável é levar a sério a possibilidade de rir de ti mesmo, trauteou ela divertida, percebes agora como é possível conversar em silêncio desde que com a atenção virada para mim?, retira da fala oracular do silêncio do mármore que naquilo que é mais importante, sempre avançamos praticamente às cegas.

Adenda com memória.

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