Para Que Quero Eu Olhos



































Pois não, ouvi a minha consciência dizer, pois não, continuou, ainda não entendeste o porquê da imagem que hoje escolhi, fácil, é muito fácil, pergunto-te: sabes porque é que os seres humanos falam aos três anos de idade e só aos sete anos conseguem ler? Outra vez, ripostei, tem dó, tempo vai em que já falamos desse assunto, não sou assim tão lerdinho. Em jeito cordato lá foi dizendo que sim, que já tínhamos falado sobre o tema, mas que hoje ela queria vincar que só-apenas há seis mil anos é que os humanos aprenderam a ler palavras, frisando que antes dessa data os seres humanos liam através de imagens e que eu devia regressar a esse tempo primitivo para saber ler a imagem-desenho que ela tinha escolhido. E escusas de perorar à volta do desenvolvimento do cérebro e dos circuitos neurais inatos (fala) e dos circuitos neurais construídos (escrita), rematou. Fiquei sem jeito, mas arrisquei: se assim queres, aí vai, aquela imagem é tal qual uma afirmação do António Damásio “A mente é um filme sobre o que se passa no corpo e no mundo à sua volta”. A catita imagem mostra a mente de quem?, interrompeu-me ela, enquanto trauteava esta canção. Ouvi calado, mas tive (mais que uma vez) de mandar calar o meu hemisfério cerebral intérprete (alô, Michael Gazzaniga!) que se desunhava a tentar traduzir o que o meu hemisfério cerebral direito já tinha percebido: que aquela imagem remetia para o nascimento e para a infância feliz de alguém muito importante, de alguém que nasceu uma estrela hipatiana, de alguém plural como o Universo. Embatuquei, mas a minha consciência não se deu por achada, disparou misteriosa: o sol já brilha lá fora, nascem-me imagens, a nossa vida é o que concebemos nela, para que quero eu olhos, gosto e gosto, adoro!

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