O movimento é a essência da vida, é, pois não é? Claro que é!
Ouve-me, sabes porque é que vieste passear neste bosque manhã cedinho? Sei eu lá bem, respondi à minha consciência crítica, sei que estou cansado, só me faltava agora filosofar à volta de uma caminhada matinal, mas aqui vai: vim passear com a imaginação acordada porque só os pensamentos que me acontecem a caminhar manhã cedinho valem qualquer coisa. Nada mal, ripostou, gosto, o espírito tem necessidade do corpo para pensar, se os pensamentos passam pelos músculos é no livre movimento do corpo que se podem desenvolver pensamentos vivificadores, alimentados por paisagens contrastadas e por relevos, pensamentos capazes de se projectar na tua existência, percebes agora que fui eu que te impeli a passear ao nascer do sol, descortinas agora que eu sou a sílfide que te é própria? Tinha que ser!, óbvio! suspirei. Ela, não se dando por achada, continuou perguntando que sabia eu sobre a estranha impressão de familiaridade que me assalta quando caminho no bosque e quando olho os ramos das árvores e quando sinto no rosto o ar fresco da manhã. Sei, respondi, só sei que é algo acolhedor que transporto em mim, algo que me faz sentir muito bem enquanto ando. Resposta bem esgalhada, disparou, regista que tu vives carregando um passado e um meio ambiente - o meio ambiente é não só o que te rodeia, é também o que te constitui -, é isso (ambos: passado e meio ambiente) que te permite existir (do latim ex(s)istere: sair de, elevar-se, mostrar-se, nascer, provir de, manifestar-se). A conclusão a tirar desta nossa conversa, reagi, é que uma caminhada matinal é não só uma experiência agradável quanto é também uma experiência existencial? Eureca!, exclamou ela amoldando-se a mim, quando sais de ti nasces e mostras-te e encontras-te a ti mesmo, ou seja, existes, o movimento é a essência da vida, é, pois não é? Claro que é!
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