Acerca de uma pintura que desvela um segredo silentemente















Ontem, quando deambulava pela tua mente, encontrei uma cópia (que agora te mostro) de uma pintura de Pieter Brueghel o Jovem, datada de 1601, "Paisagem nevada com patinadores e armadilha para pássaros", cujo original mora no museu do Prado em Madrid, conta-me: que te diz ela para a teres guardado? Surpreendido, respondi à minha consciência melhor (alô, Schopenhauer!) que foram duas as razões para ter guardado uma cópia daquela pintura: uma, porque ela também é uma cópia de uma pintura (quase fiel) de uma pintura de Pieter Brughel o Velho, datada de 1565; outra, porque sei que Pieter o Jovem (que era filho do Pieter o Velho) tinha cinco anos quando o pai morreu, e assim sendo não foi o pai que o ensinou a pintar, ele soube isso sim potenciar a sua herança genética, e a virtude da herança genética é uma tema que me agrada muitíssimo explorar. Estou deveras banzada contigo, retorquiu ela, vou pensar, reconheço que desta vez me saíste melhor que a encomenda, amanhã passado te darei novidades, mas ainda pergunto: porque é que é uma pintura-cópia quase fiel? Porque o filho pintou mais um pássaro que o pai, respondi. Vida minha!, suspirou ela aflita, devo dar mais atenção aos pormenores, gosto, é nos pormenores que os deuses moram, com esse pormenor se prova que a pintura do Pieter o Jovem é, ao mesmo tempo, a mesma e outra pintura do Pieter o Velho, a segunda pintura finge que é a primeira e é outra, nas obras de arte viajam segredos sempre te disse, entendi agora que viver é pertencer a outrem e que fingir é conhecer-se, céus!, tanta informação ao mesmo tempo! Eu, sem descortinar o que mais dizer, de Conrado guardei o prudente silêncio.

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