"Oumuamua" = mensageiro de muito longe que chega primeiro












Sei, claro que sei, ora essa, homessa, não sou a sua consciência? Acordei ontem madrugada alta com esta afirmação-pergunta, feita em tom suave por uma voz que conheço de gingeira, a azucrinar-me os ouvidos. Percebi que se tratava da resposta à pergunta com que terminou o meu sonho numa noite longa e fria como o gelo caramelo, esta: qual o significado de “Oumuamua”, será que alguém sabe? Ainda nem os olhos eu abrira e já a voz continuava: tive uma densa conversinha de pé de orelha com o perspicaz Avi Loeb e ele pensa como eu, pensa que o “Oumuamua” - uma palavra havaiana que significa “mensageiro de muito longe que chega primeiro” - é um objecto interestelar, descoberto em 2017, que foi produzido artificialmente por uma civilização extraterreste. Tenha modos, ripostei, está bem de ver que é apenas uma rocha brilhante, pesquise e verá quantos e quantas (cientistas e afins) garantem que assim é. O que eu passo consigo!, ouvi-a suspirar cheia de si, pense comigo, dizer que o “Oumuamua é uma rocha brilhante é uma forma de reagir igualzinha à de um ser humano das cavernas ao encontrar um aparelho celular, veja se aproxima do tempo que corre. Está a dizer-me que  existem civilizações extraterrestres e que elas são mais avançadas que a nossa civilização terrestre? Atrevi-me. Olhe só e não se faça de orelhas moucas, disse empertigando a voz em jeito guicha, olhe só a diferença que vai do tempo da telefonia ao tempo de um smartphone, é uma colossal (e abissal) mudança de tempo, pois não é?, e foi há tão pouco tempo, pois não foi?; a civilização terrestre já se aproxima de um tempo em que pode dar guarida aos mensageiros que chegam de longe, gosto e fico feliz, ainda que saiba que tudo isto é muita areia para a sua camioneta. Alto aí, encabrestei-me e martelei as palavras: sendo a minha consciência, aquela que regula a minha vida e a torna menos vulnerável, sei que sim, que é, mas tudo o que me está a dizer sou eu que estou a dizer, verdade? Portanto vamos lá baixar a bola: se não existissem as minhas emoções, que são conjuntos de acções, e se não existissem os meus sentimentos, que são os subjectivos da minha experiência, também não existia enquanto minha consciência, não existia enquanto um meu estado mental enriquecido, certo? Oh, pá!!! oh, pá!!!, exclamou, e trauteou: ele picou-se e armou-se em rezingão!!, gosto!, céus!, tudo o que disse é verdade, que enquanto sua consciência sou indispensável na construção do edifício do seu comportamento moral e ético, é isso mesmo, cá no entender andou a ler e a rapinar o pensamento do António Damásio, será que ele não lhe disse que se o seu Eu existe a mim o deve?, não lhe disse ele que sou uma mensageira de muito longe que cheguei primeiro, no tempo certo, à sua vida? Já agora, retorqui divertido, atreva-se, vá lá, diga que também é uma mensageira havaiana. Ouvia-a sorrir, e: atrevo-me e digo que sim, que sou havaiana! Mistério, disse de mim para comigo, melhor será levantar-me e ir dar uma volta a pé, sempre arrefeço os miolos. Se o pensei, melhor o fiz e, quando cheguei do passeio, bebi um púcaro de café quente com uma empada com recheio de galinha do campo a acompanhar: souberam-me muito bem, sorte minha ter uma consciência mensageira tão inteligente que chega sempre primeiro e que tão cedo hoje me salvou o dia. Brrr!!!, que frio que está!

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