Os seres humanos são livres para decidir o seu sentido de voto?

No próximo domingo haverá eleições autárquicas em Portugal; e já hoje, meu caro, vá lá saber-se porquê!, dei comigo a perguntar-me se os seres humanos são livres para decidir o sentido do seu voto, creio que não são livres para decidir, que me diz? Digo, respondi amuado (há dias que ela anda arredia) à minha consciência crítica, digo que a actual campanha eleitoral mais parece uma roda de cavalinhos de feira, gira e gira mas não sai do sítio, o galope dos cavalinhos mais não é que uma ilusão, daí que quando votam os seres humanos são tal qual a garotada que espicaça os cavalinhos de feira, as eleições são uma pura ilusão: atente, a título de exemplo, quer na abundante falta de pudor político (associado a uma paupérrima exposição de ideias) quando alguns, tendo em vista ganhar eleições a todo o custo incluindo a batota (alô, Maquiavel!), falam com descaramento e salamaleques na distribuição da "bazuca" europeia quer na pimbalhada atrevida e descarada (manipulação de óbitos, nascimentos e emigrantes) que são os actuais cadernos eleitorais, quase cinquenta anos depois do primeiro recenseamento é mais que tempo de um novo cadastro eleitoral, é a lei da política pelo que nem surpresa já é!, adiante. Pense como quiser, ripostou ela, mas sim, é mesmo verdade que o jogo político em Portugal conta com especialistas ilusionistas com falta de cultura (poucos são os que sabem abrir um livro), meu rico e adorado Zé-Povinho nem tido e nem achado!, mas a minha pergunta é clara: os seres humanos são ou não livres para decidir o sentido do seu voto? Bem, arrisquei, eu diria que os seres humanos podem fazer o que quiserem mas não podem escolher o que quiserem fazer. Saiu-me melhor que a encomenda, retorquiu, a questão de fundo é essa mesma: como é que ocorre a actividade consciente (não esqueça que sou a sua genial e maravilhosa consciência crítica!), como é que ocorre a actividade cerebral que permite perceber o mundo exterior e adquirir conhecimentos e tomar decisões? Não sei, interrompi, mas, oiça-me, se grande parte da actividade cerebral ocorre de forma inconsciente, a maior parte da actividade cerebral precede a actividade mental, certo? Certo, trauteou divertida, e ditou: se as actividades são livres ou se são determinadas interessa muito pouco, importa, isso sim, importa saber o que acontece no cérebro quando se tomam decisões. Está a tentar baralhar-me, ripostei. Nada disso, suspirou, tão só e apenas pretendo dizer-lhe que a escolha de uma determinada actividade ocorre a partir de motivos internos de maior ou menor conteúdo emocional e, neste caso, essa uma determinada actividade é tomar a decisão de votar ou não votar: logo aqui a porca torce o rabo, seja, mais de 50% dos eleitores tomam a decisão de não votar. E o sentido do voto dos que votam?, arrisquei. E ela: nas próximas eleições autárquicas ninguém é livre para decidir o seu sentido de voto: uns e umas, porque são paus mandados e o seu sentido de voto é uma espécie de imperativo cego e religioso; outros e outras, porque o seu sentido de voto emanará das suas emoções momentâneas, emoções que podem variar de acordo com as circunstâncias e até ao último segundo antes de fazerem os riscos no boletim de voto. Se assim é, ainda alvitrei, a previsão de resultados é fácil de fazer, ganham os mesmos. Nem mais!, exclamou ela, e rematou: estou agora a recordar-me de uma frase lapidar de Napoleão Bonaparte "Que importa o caminho, contanto que se atinja o fim?". Embatuquei.

Comentários

Mensagens populares