Sem educação ninguém é capaz de determinar os seus caminhos
Comecei a consultar com atenção a "Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era digital" e parei
(surpreendido, ou até talvez não!) no Art.º 11, N.º 2, onde se pode
ler: "O Estado promove e executa programas que incentivem e facilitem o acesso, por parte das várias faixas etárias da população, a meios e instrumentos digitais e tecnológicos, por forma a assegurar designadamente, a educação através da Internet e a utilização crescente de serviços públicos digitais". Perguntei a mim próprio: que é lá isso de "educação através da Internet" (Internet com "I", ups, que fino, livra, irra!)? Educação através da internet? Hum, muito mal irá a educação neste país se se confundir educação com um mero recurso tecnológico ao dispor da educação. Lembrei-me de, em tempo ido, me ter demorado num texto de Lya Fett Luft (escritora e tradutora brasileira) sobre o sentido da educação, texto que decidi reler. Depois de o reler, disse de mim para comigo: não está mesmo nada bem redigido o n.º 2 do art.º 11, está torto de raiz e escrito do pé para a mão, dado que não tem em conta que a educação nasce e acontece e se desenvolve entre as pessoas, e são as pessoas que podem utilizar, se o entenderem, vários recursos, e um desses recursos, óbvio, poderá ser a internet, tão só e apenas, e não mais que isso. Com a tinta acesa das palavras o digo, e agora o escrevo. Adiante, considere-se ainda que não é a percepção exterior de conhecimento que faz com que as pessoas tenham interesse no conhecimento, mas sim a percepção interna de conhecer. Mas mais, muito mais. Daí que sem aturadas (escolhidas e preparadas e avaliadas) lições escorreitas de vida, e de arte e ciência, e de sensibilidade e de literatura, e de poesia e de música, e de desporto e de dança e de teatro, e de matemática (até as leis dos teoremas fazem parte da vida) e de tecnologias, e de filosofia e de religião e de mística, e de direito e de história e de geografia e de cosmologia, e de sonhos e de dificuldades e de erros e de tropeções e de topadelas, como será possível corresponder ao aceno confidencial que a mão invisível do futuro faz aos seres humanos? Resmas de aprendizagens por atacado (via internet), isso não, não, não mesmo. A arte de educar e de ensinar tem pouco a ver com o intercâmbio do conhecimento, o seu objectivo fundamental deve ser incentivar a arte de aprender ao longo e ao largo da vida: a existência humana esvaziada de saberes e de valores pouco ou nada significa.
Adenda 1
Deverá haver legislação para regular a inteligência artificial com base no risco; sistemas em áreas de alto risco (a educação e a saúde) têm de respeitar regras rígidas.
Adenda 2
Aqui: Humberto Maturana - Idades da Humanidade
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