"Passeaggiata al tramonto" significa "Passeio ao pôr do sol"?




















Hoje, dia 12 de Abril de 2021, decidi vir até junto de si para lhe dar conta que estou de acordo consigo e que estou solidária com esse tal de Fernando Pessoa no "Arre, que tanto é muito pouco!", sobre a verdade, condição e destino de Portugal. Isso, isso mesmo, hoje é um dia azado, pois é de perder a tramontana ouvir tanto dislate sobre uma recente decisão instrutória que envolve gente da política e dos negócios e que deixa muitas dúvidas a pairar. Óbvio que sim, uma decisão instrutória não é um julgamento, pode ser revertida, mas que abriu uma caixa de pandora lá isso abriu, e abriu essa caixa antes do 25 de Abril! Ouvi (banzado), conheci a voz logo no início, mas emudeci ao ver a imagem (acima) projectada na parede branca do meu quarto com janela de guilhotina. Quão tanta é a sua surpresa, continuou a voz, tenha calma, eu explico. Lembrei-me, que quer, lembrei-me que, em 12 de Abril de 1885, quando o Cristiano Banti mostrou à minha dona - ela era o padrão feminino que morava na cabeça dele e que o inspirava dia sim dia sim - a pintura "Passeaggiata al tramonto", testemunhei uma conversa de pé de orelha sobre o processo da Inquisição contra Galileu Galilei, que se iniciou em 12 de Abril de 1633, esta: dizia o Banti que Galileu foi injustiçado naquela data e que a história lhe fez justiça; retorquia ela que não, que Galileu foi protegido pelo Papa e que deu o dito por não dito, que escreveu cartas e que as emendou sem pinga de pejo e nem de pudor; pudera, ouvi o Cristiano Banti exclamar, o Galileu sabia bem o que tinha acontecido ao Giordano Bruno, quilhar-se nem pensar. Esfreguei os olhos para saber se estava acordado, e disse eu de mim para comigo: tu queres ver que estou a sonhar e a minha memória se diverte ligando à bolina conhecimentos (há muito arquivados) com notícias recentes? Nem mais, respondeu-me a voz, recordo-lhe ao cabo e ao resto o que Paul Feyerabend (um filósofo, pois claro) escreveu sobre o conflito entre realidades, isto: "... o conflito entre "realidades" que surgem de diferentes abordagens torna-se acentuado quando uma das abordagens pertence a um movimento político (ou científico, ou religioso) de carácter popular. (...). Outro exemplo é o julgamento de Galileu. Foi um acontecimento pouco relevante no contexto histórico da época. Galileu havia feito uma promessa, não a cumpriu e procurou esconder-se atrás de mentiras. Tentou chegar-se a um acordo, conseguiu-se. Galileu continuou a escrever e a fazer sair clandestinamente de Itália o que escrevia. Foi mais feliz, menos decidido e decerto muito menos corajoso que Bruno. Mas os cientistas modernos, que precisavam de um herói e consideram o conhecimento científico tanto inviolável quanto a Igreja uma vez avistado o Inimigo, transformaram as tribulações de um escroque ansioso num conflito de gigantes." Embasbacado, ainda perguntei: "Passeaggiata al tramonto" significa "Passeio ao pôr do sol?

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