Qual é o segredo que viaja clandestino? Este: viver é sinceridade.





















(mensagem recebida)

Se tiver tempo (ou quando tiver tempo, melhor dito), demore-se na imagem acima, que é uma cópia ampliada (para melhor se espiolhar e entender os pormenores) de uma obra "Interior with Woman in Red" (1903), de Félix Valloton. Gostaria muito de ler o seu pensamento quando olha a imagem, aposto que o seu "eu" narrador lhe contará uma estória interessante. Parênteses. Não esqueça que cada ser humano é dois "eus": um é experimentador e o outro é narrador; o primeiro experimenta e sente e é verdadeiro; o segundo ficciona, mostra como em cada coisa uma coisa oculta mora, desdobra-se em narrativas que constrói. Fim de parênteses. Ah, sim, claro que sim, nas obras de arte viajam segredos que importa descobrir, sempre lhe disse que sim, não duvide, adiante, concentre-se, não sente passar por si um sopro daquele ar que envolveu os que viveram antes de nós? Vamos lá, pense que existe um acordo secreto entre as gerações passadas e as nossas; sendo assim, que somos esperados sobre esta Terra, aquela obra de Félix Valloton (agora em apreço atento) mais não é que um vislumbre de uma casa da burguesia (do fim do século XIX), uma casa da burguesia ocupada com a rotina quotidiana: (i) uma casa-corredor sem janelas está cheia de luz; (ii) as salas - teatralmente (cortinas-palco) - abrem para outras salas e ainda outras salas; (iii) a mulher, de costas e de rosto escondido, prepara-se para se vestir: ela é o exterior (corpo e alma) de um interior que não se mostra; (iiii) os degraus continuam a abertura das portas abertas; (iiiii) as diversas cores assustam e provocam sentimentos contraditórios. Daí que (alô, Emmanuel Levinas!), esta coisa-obra de arte repassada de tempo, mesmo escondendo o rosto da mulher, não prescinde de uma epifania profana: o que é só é o que nada mais é. Qual é o segredo que viaja clandestino? Este: viver é sinceridade.

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