"Impressão digital"
















Os meus olhos são uns olhos.

E é com esses olhos uns

que eu vejo no mundo escolhos

onde outros, com outros olhos,

não vêem escolhos nenhuns.


Quem diz escolhos diz flores.

De tudo o mesmo se diz.

Onde uns vêem luto e dores,

uns outros descobrem cores

do mais formoso matiz.


Nas ruas ou nas estradas

onde passa tanta gente,

uns vêem pedras pisadas,

mas outros gnomos e fadas

num halo resplandescente.


Inútil seguir vizinhos,

que ser depois ou ser antes.

Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho vê moinhos

D. Quixote vê gigantes.


Vê moinhos? São moinhos.

Vê gigantes? São gigantes. 


António Gedeão, in Movimento Perpétuo, 1956

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