Como se explica a harmonia milagrosa entre mente e matéria?
Escolhi, em tempo de Páscoa, o nascer-aparecer de uma flor de esteva (acima na imagem) e escolhi ainda ouvir (em fundo enquanto escrevo) a mezzo-soprano Lea Desandre, para dizer que os olhos dos
seres humanos são uns maravilhosos órgãos sensoriais, mas que deixam
muita informação no tinteiro: se a vista é primariamente um sentido espacial, o ouvido é primariamente um sentido temporal (por sólidas razões físicas, diga-se), adiante. Sentidos se chamam aqueles dispositivos da mente pelos quais toma conhecimento (recebe uma impressão de qualquer coisa que existe, e de que essa coisa apresenta determinado aspecto). Daí ser a mente o órgão sensorial definitivo: é ela que consegue descobrir que
numa flor de esteva e nos sons das cordas de uma guitarra e numa voz humana há infinitos invisíveis escondidos na luz, no som e nas palavras. Pergunta: como se explica a harmonia milagrosa entre mente e matéria? Pela existência de um ser divino que vive em cada um de nós, imaginou Platão, um ser divino que medeie o caminho da sombra à luz. Platão foi um grande artista literário: com a alegoria da caverna mostrou que a vida diária nos oferece uma mera sombra da realidade, mas que, mediante a intervenção de um demiurgo, com as aventuras da mente e as experiências sensoriais podemos aceder à sua essência, podemos ir da sombra à luz, e a isto chama-se revelação. É assim, será desta forma que o conceito de mundo como obra de arte se torna explícito? Nem mais, isso mesmo, na pergunta mora a resposta, bingo! Ouvi exclamar uma voz que bem conheço.
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