Juntar os saberes dos cientistas e as percepções dos artistas, é...























Claro que sei, não sei eu outra coisa, sei muito bem que resmas de opinadores dizem (e apregoam) que Van Gogh é um artista que pinta o mundo, sem embaraço e sem vergonha e sem timidez e sem intimidação, trago-lhe uma imagem de um quadro dele que há uns dias a esta parte me azucrina os miolos. Por amor de Deus, tenha dó, não preguei olho toda a noite, que pretende? Respondi, manhã baixa, a uma voz que bem conheço. Fez de conta que não ouviu, e: o Van Gogh pintou a dor e a natureza e os seres humanos e pintou-se a si próprio; dos quadros que nos legou (mais de 900, irra!), escolhi "A vinha encarnada" para o acordar e para falar consigo. Porquê? Disparei ensonado. Ora essa, porque que quero, adiante, imagine só que vi uma referência a essa pintura como sendo "A vinha vermelha". E então? Então que é um disparate, é um disparate porque "A vinha encarnada" significa "A vinha feita carne". Não?!, disse eu no jeito de eureca, e desamodorrei. Sim!, exclamou divertida. E, enquanto se despedia, sempre foi debitando que encarnar ideias é o que fazem os artistas quando, partindo de ideias visionárias, produzem objectos físicos (ou até quasifísicos como as partituras que se convertem em sons). Só falta dizer-me que o mundo (físico e percepcionado) encarna ideias belas, atirei-lhe. Záscatrapáz, suspirou, já valeu a pena ter falado consigo, é isso, é isso mesmo, o mundo (físico e percepcionado) encarna ideias belas, e para as descobrir há que juntar os saberes dos cientistas e as percepções dos artistas, que espertinho me saiu, gosto, gosto e gosto! Embatuquei.

Comentários

Mensagens populares