Com quem estarei eu a sonhar se sonhar com o nome dela?
Estava eu ao redor do lume, a fogueira confortava-se nas trabalhadas pedras (centenárias) de granito e um candeeiro pendurado na parede fazia para o espaço desafogado meia roda de luz, quando… Pois é, meu admirador de mim como sou, pois sim, não há dúvidas, sem espinhas, sei-o agora de fonte limpa, tem dias, há dias em que o meu comportamento traduz tudo quanto os seres humanos eram enquanto homo sapiens: antes de os seres humanos evoluirem para homo sapiens sapiens, já lá vão mais de 30000 anos; isso, isso mesmo, há que pensar em conjunto o cérebro e a linguagem e a evolução. Alto aí e para o baile, dei comigo a responder (sei eu bem a quem), que a estou a ouvir a si a debitar palpites, isso estou, mas o isso, isso mesmo é seu, é da sua lavra, eu não disse nada. Irra, sempre o mesmo, acalme-se e não se faça desatento, estou a dizer-lhe que há dias em que o meu comportamento traduz apenas o que é ser e estar e agir, nesta vida e neste mundo, utilizando tão só a protolinguagem (icónica: gestos, desenhos, sons), protolinguagem que era a forma de os seres humanos homo sapiens comunicarem, sei que assim era, e isso deixa-me desconfortável, para mim é pouco, é poucochinho, é miúçalha de laçadas e nós cegos. Se o sabe, retorqui, então também sabe que, quando está a falar comigo, não só põe entre parênteses essa protolinguagem quanto a sua mente simbólica (mistério!) desatou a conversar com a minha mente no jeito de quem sente oscilar um chão de tábuas (a conversar com a minha mente onde o seu nome é rei). Lindo, espertinho, trauteou ela, percebeu tudo, percebeu tudinho o que eu disse, gosto, vida minha (suspiro!), o meu nome (que de direito é rei na sua mente) é uma palavra-corpo, é um preciosidade minha, o meu nome sonhou-o a minha mãe (a minha mãe é uma esmeralda) quando eu ainda estava dentro dela, o meu nome veio de um sonho e os sonhos significam sempre alguma coisa, mas não o nome que estiver no sonho. Outra charada! Dei comigo a exclamar. Qual charada, qual carapuça, respondeu ela num sorriso-surdina (símbolo do júbilo que lhe ia na alma), tão só acabei de esbarrar (estampei-me ao comprido) na sua pergunta (julgo que é uma pergunta que interessa à poesia) que divertida e aos saltinhos agora baila na sua mente, esta: com quem estarei eu a sonhar se sonhar com o nome dela?
Adenda
Hoje será aprovado em Portugal, num tempo em que o mundo saiu dos eixos, um lírico “Orçamento do Estado” que, ancorado num passado ideológico, nem responde ao presente e nem desafia ao futuro, um desastre: a despensa está vazia, mas o apetite não se confortou ainda. Adiante, adiante que o "Orçamento do Estado" não é o "Orçamento do País"... O mundo dá tantas voltas e a diferença entre os seres humanos é tão, tão grande, é tamanha! Considere-se para memória futura: importante será deixar de olhar para a sociedade da esquerda para a direita (ou da direita para a esquerda), importante será olhar para a natureza e para a sociedade tendo em conta o norte e o sul e o ocidente e o oriente. Quem foi que falou em protolinguagem?
Comentários
Enviar um comentário