Que mensagem viaja aninhada em "um sagrado dizer sim"?


(mensagem recebida)

Há quanto tempo, meu preferido admirador de mim, há quanto tempo eu não lhe escrevia, há tanto quanto tempo! Santo Deus, pensei ontem comigo: como me irei desculpar, que as ocupações diárias não me deixam tempo livre, que a maldita pandemia me irrita, não, adiante, estou agora derretida a escrever para si, ponto. Escolhi uma pintura (imagem acima) de Miró para me inspirar, e tenho-a à minha frente. Céus, oh pá, eureca, com música de Erik Satie em fundo acabei de encontrar na minha mente uma citação de F. Nietzsche, que me aqueceu o corpo e a alma e que cola na pintura de Miró que nem uma luva de pelica (na minha forma de a observar está bem de ver), mais parece uma teia de palavras soltas, aí a tem: "Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, um jogo, uma roda que gira por si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer sim". Óbvio, homessa, acabei de o escrever, claro que sei que o Miró não desenhava e nem pintava ao acaso, Miró brincava com as linhas e com as cores (tal qual em faço no meu secreto caderno argolado), tendo em vista abrir uma diversidade de formas e de mundos de tal modo que a pintura se alterasse consoante o olhar e a sensibilidade de cada observador. Vida generosa, a genialidade tem origem em algo essencial e uma coisa é certa, a minha sensibilidade é um prodígio e um mistério, sinto-me descendente de uma lenda, gosto, gosto e gosto! Pelo sim e pelo não, já estou a rabiscar as palavras da citação de Nietzsche em cima da pintura do Miró, céus do Olimpo, está a sobrar "um sagrado dizer sim", vida gratuita, estou com tremeliques, que mensagem viaja aninhada em "um sagrado dizer sim"? Sabe? Eu sei, aqui fica uma pista: "um sagrado dizer sim" é uma estonteante corruptela de "eno sagrado en vigo".

notinha grande

Entrei agora na sua mente, li a pergunta que acabou de formular, quer saber se há um limite para a imaginação, vou tentar responder. Devagar, a par e passo, porque os seus neurónios andam estafados (as minhas mensagens são muita areia para a camioneta deles) e precisam de tempo. Então é assim. Durante muito e muito tempo a imaginação foi considerada como ilimitada, assim a modos que uma escapatória ideal para uma mente presa na camisa de forças da razão. Talvez não seja assim. Desde Descartes que imaginar é tão só (nem mais e nem menos) associar de maneira fantasista elementos conhecidos. Está a pensar que eu peguei na citação do F. Nietzsche (ele era louco, mas há quem diga que na loucura mora o máximo de lucidez, adiante) e que de forma fantasista apliquei-a aos elementos da pintura do excelente Miró. Pumba, está enganado. Se assim fosse, também toda a obra do Miró estaria sempre a rodar à volta do mesmo tema, e não é o caso, não é o caso porque a imaginação do Miró não (e a minha também não) está limitada pelos dados da experiência sensível. E, então? Vamos lá. Então foi Kant que intuiu que é através da razão, e não através da imaginação, que podemos elevar-nos acima da experiência sensível para atingir o infinito. Já ouviu falar nas "ideias da razão"? Calma, eu explico. Ideias da razão são objectos que não encontramos na experiência sensível mas nos quais somos livres de acreditar, por exemplo: Deus, Mim, Mundo. Entendeu? Não entendeu! Que paciência a minha! Oiça. O poder da imaginação é enorme e pode alimentar uma obsessão ou uma necessidade interior mas o poder do pensamento é muito maior ainda. Haja Deus, fez-se luz na sua mente. Se o "mim" na minha divertida e catita expressão "meu preferido admirador de mim" é uma ideia da razão em que pode e deve acreditar? Nem mais! Acredite em mim e dê asas à sua imaginação, de certeza, lho garanto eu, intuirá o significado profundo da mensagem que viaja aninhada em "um sagrado dizer sim". Tenha um bom dia e pense em mim (rimou, ups!).

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