Djelem Djelem

 












Aqui.

Fragmento de um texto encontrado num baú de cerejeira

"É certo, há coisas que não passam, que não passam e que não passam dentro da cabeça, dizem que moram lá, eu não sei se sim se não. São coisas que ao ouvirmos determinada música (Djelem Djelem) voltam por um postigo cego, e por isso, só por isso, sabemos que não passam. É isso, são coisas que empoleiradas nos agarram por detrás da nuca frente a um espelho sem propósito, sem máscaras e sem biombos - porquê não sei - e que nos deixam sem o querermos, que nos deixam a seu bel-prazer. São doces chamamentos, palavras irreprimíveis prenhes de afecto, andamentos torneados, partidas, ciúmes perfumados, asperezas obstinadas, vícios, raivas, abraços ternos, balbucios de saudade, tédios, espantos emalados e sobressaltos combalidos. São coisas de seres humanos, de seres humanos que à custa de tantos sacrifícios e coragem conseguiram erguer-se do rés da natureza aos degraus de uma dignidade quase divina. É certo, há coisas que não passam, são coisas do orgulho do espírito e do egoísmo dos sentidos e não de mera caligrafia social, são coisas que não passam dentro da cabeça, há quem o diga e eu não sei se sim se não."

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