... essa é que é Eça!
(…)
“Barrolo
concordou, com alarido. Também não compreendia a teima de Gonçalo
em ser deputado! Que maçada! Eram logo as intrigas, e as desandas
nos jornais, e os enxovalhos. E sobretudo aturar os eleitores. Eu,
nem que me nomeassem depois Governador Civil, com um título e uma
grã-cruz a tiracolo, como o Freixomil! Gonçalo escutara, num
silêncio risonho e superior, enrolando laboriosamente um cigarro com
o tabaco do Barrolo: Vocês não compreendem... Vocês não conhecem
a organização de Portugal. Perguntem aí ao Gouveia... Portugal é
uma fazenda, uma bela fazenda, possuída por uma parceria. Como vocês
sabem há parcerias comerciais e parcerias rurais. Esta de Lisboa é
uma parceria política, que governa a herdade chamada Portugal... Nós
os Portugueses pertencemos todos a duas classes: uns cinco a seis
milhões que trabalham na fazenda, ou vivem nela a olhar, como o
Barrolo, e que pagam; e uns trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que
formam a parceria, que recebem e que governam. Ora eu, por gosto, por
necessidade, por hábito de família, desejo mandar na fazenda. Mas,
para entrar na parceria política, o cidadão português precisa uma
habilitação — ser deputado. Exatamente como, quando pretende
entrar na Magistratura, necessita uma habilitação — ser bacharel.
Por isso procuro começar como Deputado para acabar como parceiro e
governar...“
(…) pp.62 e 63
O romance de Eça de Queirós "A Ilustre Casa de Ramires" foi publicado em 1900. O excerto acima, sem sublinhados, mostra que, 120 anos depois, o mesmo parece ainda estar a acontecer em Portugal. Basta tão só ajustar os nomes: essa é que é Eça!
Adenda 1
Nos dias que correm a quinta está à venda? Portugal para lá caminha. Ele há cada coincidência!
Adenda 2
... com memória.
Adenda 2
... com memória.
verdadeira, infelizmente actualizada
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