As más escolhas têm na sua origem preconceitos psicológicos?


(mensagem recebida)
Conte-me lá, meu caro e excelente admirador de mim até nos dias em que está zangado, diga-me se consegue ver (na imagem) um pato e um coelho? Sim! Óptimo! E consegue ver os dois ao mesmo tempo? Não consegue, como diz? Céus, diz que vê um coelho mas que o ouve a grasnar? Minha Santa Quitéria que conseguiu andar sem cabeça, deixe-se disso, óbvio que ora vê um ora vê o outro. Se tiver dúvidas consulte aqui o pensamento de Philip N. Johnson-Laird que garante que a tendência de apenas ver um modelo possível numa situação incerta e ambígua é o erro mais importante do pensamento humano. Vem isto a propósito da confusão que por aí vai sob as formas de combater e erradicar a pandemia Covid-19. Venha daí e pense comigo, por etapas, é ajuizado que assim seja. 
As mentes humanas (i) enfrentam o futuro referindo-se ao passado: ora aí tem uma explicação para o atraso em decretadas medidas de confinamento no combate à pandemia Covid-19. Sendo assim, (ii) os decisores políticos primeiro descansaram, e: todos sabemos que nada de dramático acontece na fase inicial de uma epidemia, deixa lá ver no que isto vai dar, quando aparecer o primeiro morto é que a crise se torna visível, logo se verá o que fazer. Depois, quando a crise se tornou visível (iii), disseram: talvez a Covid-19 seja uma gripe sazonal, não é preciso tomar medidas drásticas, não podemos dar cabo da economia; quiçá a Covid-19 tenha parecenças com a gripe de 1918 com um segundo pico mortal, calma, não podemos rebentar com a economia; quem sabe a Covid-19 se assemelhe ao surto Sars, resolve-se por si, devemos salvar a economia. Vida, sempre a economia em primeiro lugar, as pessoas vêm por arrasto, céus, adiante.
Está, meu caro admirador da minha inteligência, está a seguir o meu denso pensamento? Óptimo, gosto de o sentir expectante. Claro que sim, não diga mais, é óbvio que nós os seres humanos raciocinamos sobre o mundo construindo narrativas, isso, o que eu agora estou a fazer, nem mais e nem menos, mas vamos ao que interessa.
Desde o início de Março é que a porca torceu o rabo, seja, quando os políticos de direita e de esquerda e afins e outros que tais (escudados na ciência e na técnica, não vá o diabo tecê-las!) decidiram agir, pumba, as coisas vão melhor ou vão pior consoante escolheram uma das três narrativas sob a Covid-19, estas: se escolheram (i) que a Covid-19 tem parecenças com a gripe espanhola, então a resistência é fútil, importante é atingir a imunidade de rebanho (imunidade de grupo), trata-se de um fatalismo estóico, há que aceitar um grande número de pessoas mais frágeis (os mais idosos, por exemplo) vai desta para melhor; se escolheram (ii) que a Covid-19 é uma gripe sazonal, então nada, não fazem nada, esperam que a caravana passe; se escolheram (iii) que a Covid-19 é do tipo do surto Sars (através de uma vírus mais inteligente e mais agressivo), olálá, recorreram a acções drásticas (distanciamento e isolamento social, lavagem das mãos, testes e mais testes, identificação de contactos de contágio, e mais ainda), acções drásticas acompanhadas de uma leitura estatística (com indicadores sólidos) do desenvolvimento da epidemia.
Não me diga e nem me conte, os políticos portugueses pensaram na primeira narrativa, escolheram a segunda e estão a pôr em prática a terceira, será que percebi bem o que me diz? Que perspicaz me saiu, deuses, foi isso mesmo, e com isso perderam tempo, essa é que é essa! Bom, mas nada está perdido, importa que eles tenham consciência de tal facto e que, consequentemente, tomada a decisão, sejam eles agora o mais transparentes possível: expliquem o que pensam, quais os seus planos a curto, médio e longo prazo, o que esperam que venha a acontecer por mais grave (ou até alarmante) que seja. No dia em que os políticos portugueses abrirem o seu pensamento ao escrutínio público e ao debate público, com toda a certeza lhe garanto que não só farão boas escolhas e tomarão decisões mais correctas quanto obterão o tão desejado apoio empenhado e altruísta dos cidadãos (e das cidadãs, ups, quase me esquecia!) conscientes (e inconscientes).
Se a sua resposta, pergunta-me, se a sua resposta no início desta nossa conversa, dizendo-me que via na imagem um coelho mas que o ouvia a grasnar, se essa sua resposta tipifica o comportamento de alguns políticos que, na resposta à Covid-19, baralham narrativas, fazem más escolhas e mais parecem baratas tontas em dia de feriado na cozinha? Custa-me dizê-lo, mas sim, a sua resposta tipifica aquele comportamento errático. Se já estava muito zangado comigo, mais zangado fica, paciência, nasci assim, sou assim de natureza, que se há-de fazer! No entretanto, consulte...
Adenda 1
Tenho estado a pensar, vida minha, se esta pandemia não quer também dizer que os seres humanos devem abandonar o paradigma da História e de uma vez devem assumir o paradigma da Natureza: as ciclovias e os produtos vegan não são sinal disso? Céus, veio-me agora ao pensamento a imagem do anjo do Walter Benjamin e a imagem da teoria do rosto do E. Levinas, vida, o que é que me querem dizer? Ups, já sei. Querem dizer-me que se torna imperativo um novo Renascimento. Amanhã passado lhe falarei com mais pormenor, mas desde já lhe digo que há três mensagens deixadas pelo Renascimento que se aplicam (penso eu e o escrevo) que nem luva de pelica ao tempo em que vivemos. A primeira, deixada por Nicolau de Cusa: a importância da Matemática. A segunda, transmitida por Michelangelo: a centralidade da Beleza. A terceira, escrita por Erasmo: a cola social humana é a Caridade. Matemática, Beleza, Caridade são as três condições de sucesso da acção humana no século XXI, gosto. Aplicam-se aos tempos que correm? Que nem ginja! Podem servir de mote para um novo Renascimento? Olarila, claro que podem! Amor e Caridade dão-se bem? Óbvio que sim!

Adenda 2
... divirta-se, não fique assim estonteado com o meu saber, que quer, é a vida!

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