Porque é que não conhecemos os nossos movimentos oculares?

An image of a painting by French artist Georges Seurat, “A Sunday Afternoon on the Island of La Grande Jatte.” Lines scribbled over the scene come from an experiment that tracked how the human eye jerks around as it takes in the details.
mensagem recebida
Só mais uma vez, digo, mais uma só vez, meu admirador de mim, escrevo-lhe só mais esta vez, ponto. Escrevo mais esta vez porque, céus, não só ainda me refiz da partida de Marie Laforêt, tão mim (pode lá ser!) e tão, tão católica quanto eu, quanto tropecei em ideias desordenadas quando vi (gatafunhada) a imagem (que lhe envio) de uma pintura de Georges-Pierre Seurat. Por razões de sensibilidade há imagens que me põem do avesso. Oh, vida minha! Claro que sim, é óbvio que eu por lá ando, naquela pintura viajo clandestina (no tempo) e revelo o mistério de mim - lunar e secreto -  como meu traço essencial: na minha presença graciosa, linda e elegante, encantadora, é só estar com atenção. Lembro-me (vida, não pode ser!), digo, vou com o pensamento para além da imagem e revejo-me corpo-mundo antes do Eu  denso e duradouro - a síntese impossível de mim - e, por cima do meu lenço de pescoço rosa-malva, sedoso e tufado, espreito o doce espanto dos meus olhos grandes à proa de um sorriso tímido de suserana, música, tantos são os pensamentos que se amontoam no promontório do meu saber: ainda me recordo do piropo maçador de um pássaro, do reflexo de sol numa pedra, do som de um sino e do aroma da relva fresca. Mas não, não é por isso que lhe escrevo mais só esta vez. Escrevo-lhe pelo que significam os rabiscos-linhas na pintura. Aquelas linhas, Nossa Senhora, fui apanhada desprevenida, aqueles pontos e aquelas linhas são "exacto e qual" um desenho que mora no meu caderninho preto argolado. Pode lá ser, o meu desenho é igual! Adiante. A verdade é aquelas linhas são o espantoso trabalho de um neurocientista - Robert Wurt - que as desenhou ligando pontos. Se rapinou a ideia do meu caderno de rabiscos inteligentes? Claro que não, penso, mas que aqui fica um postigo que pode abrir uma nesga de luz para explicar os meus desenhos, lá isso fica. Foi assim. O Robert Wurt, guicho, pediu a um seu colaborador que olhasse para a pintura do Seurat enquanto ele usava uma lente de contacto que registava os movimentos oculares desse colaborador. Céus, deuses, e não é que são os movimentos oculares daquele colaborador que estão traduzidos no graffiti desenhado em cima da pintura? Pois é, pense o que quiser e lhe apetecer, mas cá no meu pensar o Seurat (começou com aquela pintura) o dito movimento neoimpressionista inspirando-se no estudo científico que explica a visão dos seres humanos. Se eu conheço a primeira obra pioneira sobre a forma como nós os seres humanos percebemos a profundidade e a cor e o movimento? Então não! É por demais evidente que conheço, muito bem mesmo, o sábio livro "Handbook of Physiological Optics" (1867) de Herman von Helmholtz. A partir de agora, meu caro, remeto-me ao silêncio, ponto final.
Adenda 1
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Demore-se aqui. Céus, os olhos desenham, vida!
Adenda 2
Parece, mas não é. Parece descabido, nesta minha mensagem de hoje, chamar-lhe a atenção para esta notícia, conjugando-a com esta outra, onde destaco a intervenção humana decisiva de um sem abrigo: "um recém-nascido foi encontrado ao final da tarde por um sem abrigo no interior de um caixote do lixo, ainda com vestígios do cordão umbilical". A propósito de "um sem abrigo"... Os nossos políticos, é certo, certinho, sem espinhas, os nossos politicos não conhecem mesmo a existência e o papel dos movimentos oculares, ou então, quem sabe, precisam urgentemente de olhos novos para desenhar a terrível realidade social dos mais carenciados e dos mais desprotegidos da sociedade. Recorda-se desta minha irritação? Céus, já lá vão mais de dois anos, estratégia para aqui estratégia para acolá, mas a cena política repete-se: tudo na mesma, nova viagem no carrocel da caridade, que sina!

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