Perder genes é um mecanismo evolutivo?

Resultado de imagem para baleias e golfinhos rir
Juro, seja eu ceguinha de gota serena, juro que a imagem que agora lhe mostro (três golfinhos numa risota pegada), juro que a imagem me apareceu ontem num dos meus sonhos turbulentos em que ouvi os golfinhos a falar. Conhece as leis que governam os sonhos? Não, não conheço, respondi a uma voz que bem conheço, mas ainda a manhã é menina, nada está a bulir, dormi muito pouco, que tenho eu a ver com essa imagem? Tem tudo, ora essa, respondeu num tom incisivo. Céus, um dos golfinhos, o do meio (até me confidenciou que tem consulta marcada num dentista golfinho), disse-me que se riam de si e da sua ignorância. De mim e da minha ignorância? Encabrestei-me no perguntar, mas dizendo-lhe ainda do prazer que me dava ouvi-la. Que mais lhe disseram eles? Não pude, maquinalmente, deixar de tentar saber. A dona da voz, fada, fez-se aparecer em jeito de génio da lâmpada e, rodopiando (linda como sempre, até uma duplicado de sensações que vivi perto dela me atacou), com um sorriso nos lábios e cabelo apanhado, lá foi dizendo que a divertida risota deles tinha ver com o facto de eu, lerdinho, não entender a interdição de carne de vaca nas ementas das cantinas da Universidade de Coimbra. Como é que é, agradeço-lhe, invectivei-a, agradeço-lhe que não brinque com coisas sérias, não quero saber de um absurdo desses, não entendo, cheira-me a fundamentalismo, ponto. Verdade, verdade, retorquiu ela conciliante, até eu fiquei surpreendida quando um deles (uma golfinha melhor dito, uma entidade sensitiva tipo eu) explicou-me com autoridade de sábia que, no tempo (longuíssimo) da sua transição evolutiva, os golfinhos e as baleias foram da terra para o mar e que as vacas (suas parentes) ficaram para trás a viver uma vida ruminante e entediante. Daí que seja imperativo que ninguém coma carne de vaca, que deixem as vacas seguir o seu destino, seja: que elas vão ter com eles e com as baleias, só assim terão uma vida com felicidade. Mais, pediram-me os golfinhos (todos os três) que eu lhe dissesse a si (só a si) que essa passagem de um ambiente terrestre para um ambiente aquático (a transição evolutiva dos cetáceos) é uma questão de genes perdidos, alguns genes (85) desapareceram quando (há 50 milhões de anos) deixaram de ser necessários para  os golfinhos e as baleias viverem na água. Uma questão de genes perdidos, ouvi bem? O pensamento acotovelava-me esgadanhando-me o espírito sem dó nem piedade, e: ouvi que os genes que as baleias e os golfinhos perderam, ainda as vacas e os hipopótamos os mantêm? Claro que sim, claro que ouviu bem (rimou, ups), ora confirme. Embora, continuou ela esgueirando-se sorrateira, a anatomia, a fisiologia e características de comportamento sejam diferentes entre uns (e umas) e outros (e outras), as vacas são parentes afastados dos golfinhos e das baleias. Fechei-me num silêncio desamparado, ponto.
Adenda

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