Um quadradinho de céu feito narciso, foi o que disse?
Jesús
Mosterín estava certo quando disse que o Sol sempre foi o nosso Deus
mais visível na sua invisibilidade, que o Sol é um Deus que existe de verdade, que sem o Sol tudo desapareceria. Está a brincar comigo, só pode estar a acontecer, respondi à única que fada que dorme pouco e me acorda quando lhe dá na real gana. Está a brincar comigo, continuei, acha de bom tom acordar-me a esta hora da manhã, mostrando-me uma imagem do mar onde o Sol, ao tocar o poente com o doce Zéfiro a levantar-se, se espelha no mar, mar que tanta falta me faz? E mais: não se coibe de recorrer a Jesús Mosterín para me falar de Deus, tenha dó! Ela, com ar alegre e sorriso nos lábios, assim disse: gosto da sua expressão "tocar o poente com o doce Zéfiro a levantar-se", é mesmo assim o entardecer num morro à beira-mar, que arrepio de frio, céus, preciso de me aconchegar na sua manta de lã merina, adiante, conhece o pensamento de Jesús Mosterín? Não, conheço algo mas não em profundidade, respondi. Pois devia, ripostou, agora demore-se na imagem que escolhi e que lhe envio, saiba que se trata de um quadradinho de céu feito narciso, isso mesmo, na imagem sente-se o Sol a mirar-se e a admirar-se na água. Um quadradinho de céu feito narciso, foi o que disse? Perguntei, olhando-a de soslaio, estava linda e com finura de espírito à mostra. Ela não foi de modas, garantiu que só tinha bem no fundo do coração e que o seu coração estava preso nos meus liames. A noite ia alta, felina rapinou-me a minha manta de lã, enquanto dizia que há momentos em que usando de uma abrasadora força desconhecida o olfacto (ui, vida, o olfacto, gosto do seu perfume, suspirou!), o ouvido, o tacto, o gosto e a vista fazem arder o fogo em que se consome todo o seu ser. Percebi que as palavras dela davam a entender que já havia sido ultrapassada a nossa simples troca de olhares, que a conversa terminara, desejei que a doçura dos seus lábios se dobrasse ao meu desejo... Não direi mais nada. Ponto.
Adenda
... ele há cada coincidência!
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... ele há cada coincidência!
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