Nos pormenores, lógico e extraordinário existem no mesmo tempo
(mensagem recebida)
Sei que, meu admirador de mim perfeita e imprevisível, sei que está vidrado na imagem. Percebo a sua inquietude. Boa, descobriu que se trata de um pormenor de uma obra de arte. Qual é a obra de arte, que mistério é este? Perguntam, em uníssono, alguns dos seus neurónios estetas sábios. Eu respondo: é um pormenor de um quadro pequeno e perfeito, a "Rendilheira" de Vermeer, que mora no Museu do Louvre; mais: no pormenor escolhido não só o lógico e o extraordinário vivem no mesmo tempo quanto (no pormenor) viaja, clandestina, uma máxima sábia, esta: na vida dos seres humanos, o lógico e o extraordinário vivem de mãos dadas. Quer que lhe explique melhor? Céus, tenho sempre que lhe explicar tudo, adiante, vamos a isso. Não lhe dizia eu, há uns quantos dias, que mensagens secretas viajam nas obras de arte? Nossa Senhora, está farto de olhar e não vê (nem lê) nada, não vê e nem lê mensagem alguma? Pois, é isso, ainda tem muito caminho a fazer, seja, tem que saber entrar nas imagens com a emoção e com o pensamento de mãos dadas, só assim, só nessa forma elas falarão consigo. Atenção... Primeiro, devagar como convém, demore-se no fio perfeito e lógico nos dedos da rendilheira; depois, explore, no canto inferior esquerdo da imagem, uma explosão rizomática de fios brancos e vermelhos: distintos e imprevisíveis e caóticos. Que me diz? Isso, isso mesmo, diz-me que foram utilizadas duas técnicas de pintura: uma, a arte de desenhar linhas rectas; a outra, a arte de espalhar tinta para produzir efeitos de explosão de cores. Tudo bem, mas arrisque ir um pouco mais longe. Arrisque pensar, com o corpo da rendilheira em fundo sempre presente mesmo que ausente, arrisque mergulhar num silêncio meditativo, arrisque pensar que ao lado do lógico e do perfeito existe o imprevisível e o extraordinário. Não me diga, sério? Diz-me que, assim sendo, nós devemos ver a vida com olhos, corpo e linguagem? Já ganhei o dia, gosto e gosto da sua conclusão, a sua conclusão tanto se parece com a minha forma de estar na vida, pode lá ser! Como diz? Eu sou, sempre fui, para si, no mesmo tempo, olhos, corpo e linguagem? Sério? Cuidado, não se estique, olhe a sua tensão alterada, adiante. Sabe que também eu, divertida, me disfarço quando viajo nas mensagens que lhe escrevo? Céus, vida rendilhada a minha, sorrisinho catita o meu, gosto e gosto e gosto!
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