Há desenhos que são uma espécie rara de númenes antigos


(mensagem recebida)
Que, que (ainda estou a gaguejar), que hei-de eu fazer, meu ainda (por enquanto ainda) admirador de mim perfeita e única desde o início do tempo, que hei-de eu fazer? Foi assim. Procurando (quem procura sempre encontra) sei eu lá bem o quê, sem mais e nem menos e nem assim, dei de caras com imagens de duas instalações artísticas - Yellow Atmosphere Projector (2018) e One Way Colour Tunnel (2007) - do criativo e polímata Olafur Eliasson. Nossa Senhora, durante uns segundos conheci essa espantosa (e curiosa) felicidade que aos seres humanos oferecem as coisas que são quase um arquétipo. Céus, então não é, vida, então não é que, ao olhar com os meus olhos reluzentes as duas imagens (que agora lhe envio), desatei a pensar no meu desenho (rabiscado com os meus dedos ágeis) que, no lado esquerdo desta página, dá alma e ilumina as palavras, as músicas e as rimas? Naquele momento, Santa Maria, recuperei o prazer elementar que (emocionada) senti, quando em quietude, por um misterioso deus desconhecido, me foram reveladas as formas puras da geometria euclidiana: a esfera, o cilindro, a pirâmide, o cubo. Se penso que o meu desenho tem assim tanta importância? Pelos vistos tem, eu não tinha dado por isso, nunca o tinha sentido arquétipo, pode lá ser assim. A verdade é que agora sim (rimou, ups), agora já acredito naquilo que por vezes me diz: que em cada instante da minha vida sou tudo o que fui e sou aquilo que ainda serei: sou em mim o ser a deixar de ser para ser, a modos que como o rio que em mim flui. Que quer, sou assim de nascença, nasci para promover a dimensão poética da vida, dimensão poética da vida que constitui o significado imediato de um poema da imortal Sophia de Mello Breyner: "ia e vinha/e a cada coisa perguntava/que nome tinha". Raio de poema, aplica-se a mim, aplica-se a mim que nem luva de pelica. Adiante, registe, se estou feliz: olho, danço, rio, canto. Nada mais a dizer, ponto.
Notinha 1
Se não sabe quem possa ser Olafur Eliasson, tem bom remédio, pesquise, procure saber.
Notinha 2
A propósito de desenhos: conhece os poemas visuais de Joan Brossa? Não? Olha a grande novidade!
Notinha 3
... e ainda ligeiramente a propósito, e mais ainda.

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