Sim: há responsabilidade do Estado e há responsabilidade politica
Tinha
prometido a mim próprio não escrever sobre a tragédia de
Borba. Porém, sempre que os limites da decência são
ultrapassados, é eticamente reprovável ficar calado (J. Luis Aranguren dixit). Vamos lá... Li e senti (aqui), com um nó no estômago, não só a frieza de um exercício despudorado de
alijamento de culpas ((que nem sequer já me surpreende: é um padrão (já estou acostumado) que se repete demasiadas vezes, registe-se, até a sós me rilho)) quanto também li (e senti) uma manifestação de insensibilidade à desgraça alheia, uma insensibilidade e um desgraçado distanciamento emocional (como pode haver alguém capaz de dizer uma coisa assim sem perra gaguez política: ninguém lhe leva a palma, não aprendeu, é caturra, não sabe discretear e perde facilmente a noção da medida justa). Fica mal, cai muito mal a quem tem responsabilidades políticas ao mais alto nível e não percebe a fundura da tragédia, quem ignora que há pessoas que morreram após um desmoronamento de uma estrada pública, quem ignora que há famílias em choque, quem ignora que há muitos cidadãos preocupados e desalentados: felizmente cidadãos com fúrias e com ganas de fritar farta-velhacos. Três perguntas, e um óbvio: (1) não teria sido mais sensato e mais avisado ter dito, mandando as preciosidades jurídicas às malvas (Estado é Estado e quem garante o seu funcionamento é a administração pública) ter dito, sem delongas e sem meias-tintas e de imediato, que o "Estado Central" e/ou o "Estado Local" (até mesmo os dois em conjunto), assumiriam todas e quaisquer responsabilidades indemnizatórias e políticas que lhes vierem a ser imputadas?; (2) para quê confundir os cidadãos sem necessidade para tal, a não ser a necessidade de salvar a sua cameleónica pele política?; (3) a ser mesmo como foi dito (ponham-se aqui pitadas de ar caricato remoído): quando se identifica o Presidente da República como o Chefe do Estado, o que é que se quer dizer, sabem? É o Chefe de qual Estado? Apenas do Estado ficção jurídica? Adiante, passemos ao óbvio. O óbvio escarrapachado, já toda a gente o viu e entendeu, só não o vê quem o não quer ver, seja: que não só há responsabilidade da administração pública (responsabilidade objectiva) quanto há uma enorme responsabilidade política (responsabilidade subjectiva): responsabilidade política daqueles políticos que, depois de avisados a tempo e com muito tempo, nem o dedo mindinho mexeram para prevenir e para evitar a tragédia de Borba.
Adenda
... pois, óbvio, clarinho!
Adenda
... pois, óbvio, clarinho!
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