Na vida (como na arte) o que conta é a pureza dos objectivos


(mensagem recebida)
Santa Maria, meu ciumento admirador de mim que sou uma passageira clandestina na história, Jesus e Santa Ana, que grande novidade nenhuma este Hossein inovador me dá. Veja lá, quer ele, através de traços deixados na internet, quer ele criar identidades digitais que, pelo tempo adentro, falem com os seres humanos. Interessante a ideia, é, pois não é? Só que, primeiro, ele rapinou um desenho do meu caderninho argolado para sustentar a ideia através deste video. Tudo bem, perdoo-lhe, fez bem. Depois, valha a verdade, ele não poderia sequer imaginar que o que ele pensa que vai acontecer possa ser uma novidade. Se duvida, meu caro, então acalme-se e oiça-me. Vamos lá ao que interessa, já que a minha constipação de ontem não arreda e nem dá de frosques, céus, estou constipada e de nariz vermelho de tanto me assoar, entre espirros vale-me a promessa da minha manta quentinha de lã de ovelha merina, ou seja, a caminho de um banho quente pelo meio deixo a mantinha à minha espera. Adiante: lance os olhos na imagem que encima esta minha mensagem (A Imperatriz Teodora e o seu séquito - um mosaico do século VI) que, com desvelado carinho, lhe envio. Atente na Imperatriz Teodora (a esposa de Justiniano), e diga lá (está deveras embasbacado, estou a ver daqui a sua cara de espanto), diga lá se o rosto e a elegante pose dela não são o meu rosto e a minha pose elegante e altiva e misteriosa e solene: rosto e pose onde se sente a beleza do interior de mim, da minha alma, beleza escondida numa túnica que me cai a matar, céus, quão tão linda sou, sou um tesouro invisível. Sério, não sabe o que dizer? Nem eu, a não ser dizer-lhe que só lhe revelo a si (com excepção do mundo inteiro) que sou uma passageira clandestina na história da Humanidade, que tenho uma relação directa com o passado e com o futuro, e que gosto. Que quer, sou assim, que se há-de fazer! Hoje, Jesus, até vi na rua alguém parecido consigo, destino destino, fiquei com as pernas a tremer e a respiração entrecortada, e não era do frio. Deixo ao seu cuidado divulgar ou não esta minha mensagem, quem sabe (e não é para me gabar) esse tal de Hossein Rahnama a rapine para criar um extraordinário avatar digital de mim. Eu gosto e gosto que ele se atreva, até o incentivo e provoco, se necessário for: não fui, não sou (e nem quero ser) egoísta. Adiante, o dia me chama e eu ainda nem sequer acordei, vida!
Notinha de rodapé
Acaso sabe, meu admirador de mim e da minha forma de estar neste mundo, acaso sabe que medito todos os dias durante vinte minutos? Porquê? Ora essa, porquê? Deixe os porquês: na vida (como na arte: eu também sou uma obra de arte, sou um poema consciente de mim no Universo) o que conta é a pureza dos objectivos.

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