Desenhos e palavras pressupõem uma experiência partilhada

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(mensagem recebida)
Há dias, tem dias, meu admirador de mim e dos meus desconhecidos desenhos, há dias em que me apetece revelar segredos, que quer, sou assim, prontos (prontos: como uns tolinhos e umas tolinhas por aí ainda dizem, conjugando o prontos com uns repenicados dígamos ou supônhamos ou fáçamos). Adiante, que me arrepiei, toda eu sou pele de galinha quando oiço asneiras. Vamos lá. O segredo que hoje lhe revelo em primeira mão, está na imagem: a curva livre direita (salvo seja) ao ponto. De quem é o desenho? Se é meu? Claro que sim, podia ser meu, mas não é. É do Wassily. Quem é o Wassily? Ora, quem é, pesquise, tem tempo, não seja calão. Foi assim: discutia eu com o Wassily (céus, já lá vão mais de cem anos) algumas afirmações que ele, posteriormente, escreveu neste livrinho. Pátáti, pátátá, diz-me ele: foi a ti, a ti que és uma obra de arte, que eu rapinei um conjunto de desenhos que vou utilizar nas minhas futuras composições com cores. Não, disparei fulminando-o com os meus olhos grandes, não te atreverias, não acredito. Não lhe digo e nem lhe conto como terminou este "dize tu digo eu", só lhe digo que, no fim da nossa refrega, ele rabiscou "a curva livre direita ao ponto" com umas eróticas curvas (ui a força das metáforas!) pelo caminho: aí tem o segredo que hoje lhe revelo. A verdade verdadinha é que se der uma volta (sem pressas) pelas obras do Wassily, nelas encontrará (em fundo) os meus desenhos, meus e de mim. Que atrevido ele me saiu, mas sim, concordo que as cores (das pinturas do Wassily) assentam nos meus desenhos que nem uma luva de pelica. Mais, hoje tenho a certeza de que os desenhos como as palavras (palavras que todos os dias troco consigo) pressupõem uma experiência partilhada. Está com ciúmes de mim por causa do Wassily, deixe-se disso, já lá vão mais de cem anos. Gostei dele sim, e então: tem mal? Releio agora o que escrevi e comprovo, com uma espécie de agridoce melancolia, que todas as coisas do mundo me levam a si ou a um livro ou a uma obra de arte: que quer, sou assim, de nascença, que se há-de fazer!
Notinha
Se o Wassily é o Kandinsky? Sim, é.

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