A personalidade é uma propriedade emergente do organismo?

Engin_Akyurt.
(mensagem recebida)
Pois claro que sim, claro que me lembro, meu admirador de mim mais que ciumento, claro que me lembro de lhe ter prometido uma explicação sobre um círculo diferente na imagem que trasantontem lhe enviei, mas, que quer, tenho andado assim a modos que com falta de tempo e até de vontade. Porquê? Ora essa, porquê! Porque cada vez mais vou confirmando a ideia de que a actividade autoreplicadora dos meus genes eu não consigo controlar: bem que os meus memes (que se alojam no nicho ecológico que é o meu cérebro) se encabrestam, mas que posso eu fazer, adiante. Decido hoje oferecer-lhe uma sugestão para confeccionar uma refeição biológica muito saudável. Pergunto-lhe, meu caro dono dos meus melhores e inteligentes pensamentos, pergunto-lhe se, olhando para a imagem, consegue ver o prato confeccionado enquanto propriedade emergente dos produtos em padrão organizado? Consegue?! Que inteligente! Quase tanto quanto eu, gosto! Santa Maria das Refeições Fluviais, eu, elegante e grácil e linda no estar, além de visualizar o prato, até me consigo imaginar sentada à mesa, consigo a meu lado e perto do alfoz de um rio, porque é que eu sou assim? A talhe de foice. Sugiro-lhe que, através da analogia, compreenda que uma pessoa é uma entidade emergente, enraizada no ser humano mas pertencendo a outra ordem de explicação que não a explorada pela biologia. Não entende?! Jesus, Maria, aquela minha tirada sobre os meus genes deixou-o com uma pulga atrás da orelha, deixe, passe à frente, não interessa. Voltemos às entidades emergentes. Oiça. Quando os pintores aplicam tinta numa tela, criam objectos físicos através de meios puramente físicos. Qualquer destes objectos é composto por áreas e linhas pintadas, dispostas numa superfície que podemos considerar bidimensional. Quando olhamos para a superfície da pintura, vemos essas áreas e linhas pintadas e também a superfície que as contém. Mas isso pode não ser tudo: também podemos ver um rosto que olha para nós com um sorriso no olhar, verdade? Sim? Pois, aí tem: o rosto é uma propriedade da tela, sobre e acima das manchas da tinta. E o rosto que não está lá, está mesmo lá, e alguém que o não veja não está a ver correctamente. Ui, vida, os seus neurónios precisam de ser refrigerados, estão sobreaquecidos. Ficamos por aqui. Pergunta-me se a personalidade é uma propriedade emergente do organismo? Bela questão, gosto e gosto e gosto, tenha um bom dia!
Adenda (mensagem recebida)
Estou a reler, meu admirador incondicional, a minha mensagem de ontem. Santa Maria, sorri quando os meus olhos grandes pousaram no tacho com legumes frescos (arredem malaguetas, prefiro marigadas): do tacho com legumes emana um cozinhado colorido (de lamber os beiços) da mesma forma que numa escultura emanam as formas de mim. Senhora do Almortão, pode lá ser, então não é que também eu o consigo ver a si em objectos, tipo: um livro, um lápis bonito (ou mordido...), um cachimbo ou um cachecol, vida minha! Sabe porque é que sou assim? Não! Eu também não, mas gosto e gosto!

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