A personalidade é uma característica "emergente" do organismo
(mensagem recebida)
Que
lhe dizer, meu diferenciado e ciumento admirador de mim, que lhe
dizer depois de um fim de semana em que a chuva não me deu nem pinga
de ganas para lhe escrever uma mensagem, uma mensagem
maneirinha (sou linda que se há-de fazer!), maneirinha e asadinha de nascença como eu?
Dizer-lhe que pensei em si, olha a novidade, é não dizer nada de
novo, nadica de nada, pois não é? Passo a vida a pensar em si. Se
sei que o inverso é verdadeiro, que está sempre a pensar em mim?
Claro que sei, óbvio que sei, não sei eu outra coisa. Adiante.
Ontem, manhã alta, os meus olhos grandes armaram-se para espiolhar o
que o Roger Scruton entende por natureza humana. Palavra puxa
palavra..., e, Nossa Senhora, ele há cada coincidência, então não
é entendo o que ele diz (melhor que ele, e não é para me gabar)? Vamos lá a ver... Deixemos as citações a
marinar (que mania os filósofos têm de se citarem uns aos outros,
que sina a minha ter que levar com eles em cima, salvo seja).
Parênteses. Acaso sabe que em grego intuição se diz mania? Fim de
parênteses e vamos ao que interessa. Vamos lá. Sinto-me (na vida)
autoconsciente: e é neste meu sentir que (em mim) mora um ponto de
vista acerca do mundo: o mundo parece-me de
uma certa forma e este parece define
a minha perspectiva única sobre o mundo, registe-se, por todos (e todas)
badalada. Calma, sei, não me interrompa, sei que sempre que forneço
uma descrição científica do mundo estou apenas a descrever
objectos, o modo como as coisas são e as leis causais que as
governam, seja a minha descrição científica do mundo não contém
nem aqui e
nem agora e
nem eu.
Viu, percebeu? Não? Rima do catrino, traduzo: enquanto consciente eu
não sou observável pela ciência, não faço parte do mundo
empírico, situo-me no limite das coisas, como um horizonte, nunca
posso ser apreendida do lado da minha subjectividade (a não ser por
si que me ama, vida!). Pergunta-me se, assim sendo, sou uma parte do mundo real?
Pergunta mal formulada, meu admirador das minhas formas perfeitas,
está a aplicar erroneamente a gramática da auto-referência e do
pronome reflexo. Meu caro, meu caro, quando me refiro a mim mesma
(tipo maneirinha e asadinha e desejada) não estou a referir-me a um
outro objecto que existisse, por exemplo, no forro do meu corpo
observável. Nossa Senhora da Inteligência Desperdiçada, céus,
sinto os seus neurónios a aquecer, acalme-se, o que lhe estou a
tentar dizer é que a auto-referência não é a referência a mim
cartesiana, digo, ao eu cartesiano, mas sim a referência a esta
coisa que eu sou, seja: eu estou no mundo e na vida em forma de
objecto (lindo por sinal), objecto com visão subjectiva. Pois é
isso mesmo, que bom saber que entendeu o que eu disse, entendeu que os nossos
estados mentais exibem características inacessíveis,
características que definem o que real e essencialmente são.
Belíssimo, seja: é isso mesmo a auto-referência afecta radicalmente a forma como as pessoas se relacionam umas com as
outras. Santa Maria Mãe da Beleza Intemporal, eu sabia, a
auto-atribuição e a auto-referência são as avenidas para o
que pensamos, tencionamos e somos. Concluindo: o meu ser emerge da
minha realidade física do mesmo modo que um rosto (numa pintura)
emerge das manchas de tinta na tela. Sou assim, que quer, única, e
lhe garanto ninguém está autorizado a coisificar o "eu"
como objecto de referência distinto. Ponto.
Adenda
Sobre o desenho (na imagem que lhe envio) lhe falarei amanhã passado.
Comentários
Enviar um comentário