Como entende o nosso cérebro a beleza?
Adenda (mensagem recebida)
Ontem, que quer meu ainda e por
enquanto admirador de mim (pode lá de deixar de ser assim, adiante
que a rima já acordou), ontem colhi o oiro do dia de tanto olhar a
água, e dei comigo a matutar (há quem diga a filosofar) numa
pergunta, digo, numa afirmação que fiz, esta: é importante separar a
definição de beleza da definição de arte porque há formas de
arte que não necessariamente belas, por exemplo, as obras de Francis
Bacon são chocantes mas não são belas. Mau, belisquei-me, que há
então de comum entre todas as coisas que consideramos belas?
Zascatrapás, encontrei uma definição neurobiológica de beleza:
quando experimentamos algo de belo (independentemente das diferenças
culturais) desenvolve-se uma actividade em partes concretas do
cérebro, seja, na parte do centro de prazer e na parte do centro
emocional. Ui, ui, ui, será? Claro que é, descansei-me, a beleza
não está associada a alguma característica exterior mas sim a uma
multiplicidade a atributos que vemos em algo, numa pintura, numa
pessoa (em mim é óbvia a multiplicidade de atributos, olha a
novidade!), multiplicidade que quase se pode definir matematicamente.
Mas sim, até que concordo com o que agora está a pensar, que sim,
que não se trata de uma problema de matemática, mas que sim, que os
estímulos que desencadeiam a actividade cerebral da beleza acordam
sentimentos de felicidade, de comoção, de gosto. Tenho para mim,
em consonância com o Semir Zeki, e hoje por aqui me fico, que há um
conceito tríade-fatal (uma trindade) que implica uma actividade
neurológica na mesma zona do cérebro: a beleza, o desejo e o amor.
Pergunta que me faz e que considero bem pertinaz (hei-de desancar a
cretina da rima, que melga!): se na escrita as metáforas para o
rosto e para o corpo produzem o mesmo efeito na mesma zona do
cérebro? Nem mais, exacto e qual. Quando, meu admirador sensato mas
ciumento até dizer chega, quando fala (nos seus escritos) do lume
dos olhos bugalhados e das curvas do meu vestido e do meu cheiro a
linho, Santa Maria, no seu cérebro as luzinhas não páram de piscar
rumorosas como um enxame de abelhas, sei-o de fonte limpa, sou tão
linda! Santa Maria, acabei de reler esta minha mensagem e o meu
sorriso mais se parece com um jardim, gosto!
Adenda 1
Claro que sim, a cultura
influencia padrões de beleza no cérebro (pois, pois, a plasticidade
cerebral), mas ponha os olhos em mim e saberá que o cérebro se
recusa a admitir alterações no rosto e no corpo: a cara e o corpo
são genuínos e únicos para sempre. Roupas, palavreados e
quejandos, tudo bem, mudam consoante as modas e os tiques e o cérebro
adapta-se. Não acontece o mesmo com o rosto e com o corpo, neles
moram as linhas matemáticas da beleza que desencadeiam os
sentimentos de desejo e de amor, o cérebro não aceita alterações.
Minha Nossa Senhora da Beleza Intemporal, não lhe digo sempre que
eu sou genuína e única?
Adenda 2
Percebe só agora porquê todos
reagimos mal às obras de arte de Francis Bacon (que desfiguram rostos e
corpos humanos)? Isso, é isso, o cérebro é casmurro, rosto e corpo
são únicos para definir os parâmetros da beleza.
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