A vida é bela para quem faz caso dela
Hoje vou (re)ver um filme.
Adenda (mensagem recebida)
Pois sim, digo, pois não, meu
ainda e sempre e para sempre admirador de mim, pois não gosto de ver
o filme de hoje até ao fim. Fico assim a modos que com um murro na
barriga, as cenas dos campos de extermínio dos judeus incomodam-me.
Aquela violência não é de seres humanos: quando assim é, a terra
não brilha, a luz é fria, o horizonte não respira, há medo e dor
e cobardia (rimou, ups). Qual justificação qual quê, não há
nenhuma justificação, ponto final parágrafo. Não me diga, sério,
também pensa como eu, surpresa minha nenhuma, podia lá pensar de
outra forma, a imagem das estrelas bem que mo dizia mas eu não
queria crer, adiante. Ontem, que quer, dei por mim, no silêncio, a
ouvir a noite a pedir-me uma gota de água para poder dormir. Não me
fiz rogada, dei-lhe um copo cheio de água fresquinha. E o que é que
recebi de troca? Recebi uma laranja anafada com uma etiqueta onde se
pode ler: na laranja, o sol e a lua dormem de mãos dadas. Nossa
Senhora da Beleza Inteligente me acuda: então não é que pensei
comigo que a vida é bela e que às tantas até um bago de uva sabe
de cor o nome dos dias de Verão! O quê, céus, não pode ser, um
estorninho soprou-lhe o meu nome no rumor da água da ribeira que
corre livre sem noras e nem alcatruzes e nem açudes e nem quejandos? Vida minha,
enganei-me e especulei, digo, deitei-me a adivinhar, mas sim, a vida é mesmo bela para quem faz caso dela. Sem eu o merecer, assumo, nunca tal me tinha acontecido, ora oiça
o que me aconteceu: então não é que agorinha mesmo, na concha da
manhã, me apercebi de uma carícia (impaciente: tão cheia de
alegria tão cheia de abandono), uma carícia que por aqui anda (qual a sua origem, uhm, desconfio), uma caricia que
não encontra a minha mão, até os meus olhos grandes se marejaram.
A vida é bela e eu sou linda, que quer, que se há-de fazer, nasci
assim, sou assim, esmeralda de nascença. Vida, acabei de enrubescer no jeito do sangue
matinal das framboesas, Nossa Senhora da Vida Bela, Santa Ana,
inteligente avó de Jesus, tudo me acontece! Uma carícia à minha
procura, pode lá ser, quanto a vida é bela para quem faz caso dela!
Notinha
Olhe só! Por mor da minha forma
intuitiva e genuína de estar na vida, de ser e de conhecer, até Demócrito
fui ler (rima cretina, melga). Li no fragmento 590: “há
duas formas de conhecimento, uma genuína, outra obscura. À obscura
pertence tudo o que se segue: vista, ouvido, olfacto, paladar, tacto.
A outra é genuína e é muito diferente desta...”.
Estaria Demócrito a pensar em mim? Vida!
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