Quem pode decretar o carácter supérfluo de uma existência?

Philosophie des âges de la vie
Hoje, dia em que, em Portugal, na Assembleia da República, os deputados vão analisar e discutir e aprovar (ou rejeitar) alguns projectos de lei para despenalização da morte médicamente assistida (Eutanásia e Suicídio), importa primeiro dar conta da existência de um livro interessante sobre a filosofia das idades da vida que vale a pena compulsar, tanto mais que (de forma bem fundamentada) nele não só se pugna por uma política das idades da vida quanto se equacionam utopias realistas.
Depois, há que levantar três questões. Uma: estão os senhores deputados (e deputadas) preparados para decidir sobre uma matéria tão complexa (bem sei que podem sempre recorrer a pareceres e a estudos e a especialistas) que actualmente divide a sociedade portuguesa, e que, em rigor, é contra natura na profissão médica? Outra: tendo presente que haverá eleições legislativas (no prazo máximo de um ano e meio), não mandará a prudência (e a sabedoria) que os partidos políticos se apresentem às próximas eleições dizendo o que pensam (e ao que vão) sobre a matéria da despenalização da morte médicamente assistida (coisa que não fizeram nas últimas eleições legislativas)? Outra ainda: se a Constituição Portuguesa exige (em matérias fundamentais) maiorias de dois terços de deputados, porque é que a despenalização da morte médicamente assistida não é considerada uma matéria fundamental, porquê?
Finalmente, pergunta que sobra (e na qual, provavelmente, mora a resposta): quem pode decretar o carácter supérfluo de uma existência?
Nota de rodapé
Registe-se: para "votar em consciência" é necessário ter consciência.
Adenda (30/05/2018)
1... claro como a água.
2. Da rejeição (na Assembleia da República) dos (todos) projectos de lei, aquilo que também fica claro é a necessidade (imperativa) de optimizar o Serviço Nacional de Saúde universalizando, nomeadamente, os Serviços de Cuidados Continuados e de Cuidados Paliativos.

Comentários

  1. Meu caro Amigo
    Prudência, mais prudência e muita prudência.
    Não vejo onde está a pressa em ver aprovado alguma coisa a este respeito. Não podia estar mais de acordo. Apresentem (se é que os têm) os manifestos eleitorais a este respeito nos seus programas eleitorais, vamos a votos e, só depois só da opinião que é chegado o tempo de discutir tal assunto. Contudo, espero não chegar a um referendo a este respeito!
    Abraço
    RP

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  2. É UMA QUESTÃO MUITO FRATURANTE ONDE NÃO DEVERIA CABER O OPORTUNISMO POLÍTICO QUE INFELISMENTE GRASSA. A EMOTIVIDADE E O SOFRIMENTO NÃO SÃO TRANSMISSÍVEIS. PESSOALMENTE, VIVO UMA CONTRADIÇÃO. POR UM LADO SOU CONVICTAMENTE A FAVOR DA DESPENALIZAÇÃO. POR OUTRO,NÃO SEI SE TERIA CORAGEM DE SOLICITAR PARA MIM A PRÁTICA DA EUTANÁSIA, NÃO POR TEMOR A ENTIDADES DOGMÁTICAS NEMPOR REBATES DE CONSCIÊNCIA, MAS POR COBARDIA.

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  3. Conceber a vida do outro como indigna, implicar nisso um bem, o bem da morte do outro tornar-se o elemento moral da deliberação da eutanásia, médica e jurídica,....

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  4. Acabei de ver que a maioria de deputados/as votaram contra a eutanásia. Mas a questão mantém-se:
    Estariam/estão os senhores deputados/as preparados para decidirem sobre esta matéria?
    Pessoalmente estou inclinado para a despenalização. Porque é disso que se trata. Isto porque que, se uma pessoa, no uso das suas faculdades mentais (?) quiser pôr termo à sua vida, fá-lo e ninguém o penaliza por isso. Então porque é que uma outra pessoa querendo-o fazer, mas não podendo, não tem o direito de o fazer, pedindo ajuda?

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  5. O esplendor da ética republicana assumida como valor supra constitucional.
    Mais?
    Impossível-

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