A experiência estética é uma bússola que nos guia para a Verdade
Mensagem recebida
Meu admirador, meu admirador de mim e da minha beleza natural, cá no meu pensar a beleza tem que nos arrepiar (raio de rima, que melga), diga-me lá: quando me vê sente arrepios, certo? Já ouviu falar em fascia e em própriocepção? Sente arrepios e sabe porquê, sabe que as emoções mexem com o corpo, no entanto, fascia e própriocepção são para si apenas dois palavrões. Céus, o que eu passo consigo, um dia destes lhe direi do que se trata. Adiante, que hoje estou irritada, digo-lhe porquê. Acabei de espiolhar um artigo intitulado "A tirania da beleza". Li, percebi, não gostei, mas entendo o que lá se diz, seja, quando se confunde beleza com aparência, dá no que dá, mete-se água. Mas, vida, quem sou eu para criticar o autor, ele sabe o que diz, tem estudos, mas ainda tem umas contas a ajustar com os muitos usos que se fazem da beleza, às tantas subiu-lhe à cabeça a quantidade de livros que já escreveu. Ui, se ele me aparecesse na frente! Olhe que não, olhe que não, dir-lhe-ia ferina, olhe que não é verdade que as pessoas bonitas sempre têm vantagem sobre as feias, é falso e injusto, digo-lho eu com saber feito pela vida, até lhe digo mais: é exactamente ao contrário. Sei, meu admirador de mim, sei que ele ripostaria, mas que quer, estava dito o que eu penso, seja, gosto muito pouco de leituras (e menos ainda de afirmações dogmáticas) reducionistas mas sempre sigo a máxima de Espinosa: "cada um pense o que quiser e diga o que pensa". Hoje envio-lhe uma imagem (que beleza!) do cérebro em actividade, sabe porquê? Não sabe, mas eu explico enquanto aprecio as minhas mãos mimosas e samaritanas. Explico assim, vamos lá... Penso que a beleza existe numa ordem estranha e que não é uma fatalidade biológica, seja: a nossa experiência estética, a sensação de estar confrontado perante qualquer forma de beleza, é assim a modos que um espelho onde o nosso cérebro se vê para nos dizer (em entrelinhas através da mente: os sentimentos moram na mente) se estamos no bom caminho para entender a verdade do Universo e a verdade original de nós próprios: a Verdade do Ser em nós. Surpreendido? Pois não esteja. Deambule por aqui e por aqui e verá que a síntese que eu fiz é mui certinha. Parece-lhe que a minha certeza tem carácter místico? Porque não, qual o problema, todos os dias tanto eu vivo em si como tanto vive em mim! Pode ter carácter místico o que eu avento, mas a ciência também o confirma. Diz-me, gosto e gosto, diz-me que, sendo assim, eu e a minha beleza (escorregadia, tímida, exigente, milagreira), que eu e mim somos um espelho para o seu cérebro, que somos a bússola da sua mente em busca da verdade e do sentido da sua vida. Grande novidade nenhuma me dá, como se eu o não soubesse!
Notinha de rodapé
Santo Deus, meu admirador em todos os dias faça sol ou faça chuva, acabo de confirmar que observar (maldita rima, xô), digo, contemplar (ups, de novo a rima) a beleza e sentir as emoções positivas relacionadas com ela (como a alegria, o prazer, o assombro) pode potenciar o sistema imunitário. Ainda não se sabe quem é primeiro, se a emoção ou o processo químico ou se é algo bidirecional, mas com a beleza por perto, isso é certo (que rima melga) não só os dias são melhores, quanto os níveis de proteínas pro-inflamatórias são mais baixos. Mas há mais, vida, há mais: dizem os investigadores que contemplar maravilhas da natureza ou apreciar algumas espantosas obras de arte ou (em silêncio) escutar a Ave Maria de Shubert potencia as defesas do corpo. Seja: as emoções positivas associam-se com os marcadores de boa saúde. Vê, meu estonteado admirador de mim única e linda e inteligente e papoila, percebe agora porque é que eu gosto tanto e tanto de rotinas saudáveis?
Comentários
Enviar um comentário