Não me diga, não me diga, não me diga que não sabia da ascídia

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Lhe escrevo hoje, meu admirador de mim, lhe escrevo em jeito de rosa rubra, lhe escrevo, a si, meu mar feito de marés revoltas e de cantos de búzios que me encantam e me transformam. Gosto do poeminha do Eugénio de Andrade (de ontem). Mas, Nossa Senhora da Beleza do Mar, não sei o que dizer mais sobre aquele vestido dourado cor do Sol, do corte de cabelo, do pé pequenino e de tudo o mais, sou eu, tudo à minha medida, que mais há a dizer? Que o poema relata a nossa sina, verdade? Sim, claro que sim, adiante. Mudando de assunto, sem fugir ao tema do mar (o mar veio para ficar) comento consigo um pensamento que me ocorreu durante a semana passada. Foi assim. Ao matutar em todas as traquinices (e mai-las trampices e trampolinices) que por aí andam, sei eu lá bem porquê, veio-me à cabeça que alguns humanos (também por estas bandas do ocidente da Europa, aqui onde a terra acaba e o mar começa) têm qualquer coisa de ascídia. Estudei longamente (como é meu timbre) os seus comportamentos e atitudes (na política, na saúde, na justiça, no futebol, na banca, na comunicação social and so on) e as suas (deles e delas) vias sacras de equívocos em jogos de tira e põe. Parece que alguns deles (e delas) só procuram um sítio para se acoitarem, para se imobobilizarem e para devorarem o cérebro. Não me diga, meu admirador de mim perfeita, única e sereia, não me diga que não sabia da ascídia! Tem bom remédio, é só pesquisar. Atente no que, neste livro, o Daniel Dennet diz da ascídia: “La ascidia, cuando es joven, vaga por el mar en busca de una buena roca o arrecife de coral al que agarrarse para convertirlo en su casa por el resto de su vida. Para llevar a cabo esta tarea, posee un sistema nervioso rudimentario. Cuando encuentra el sitio y echa raíces, ya no necesita más a su cerebro, así que ¡se lo come!. Es como ganar unas oposiciones … “.
Adenda
Deixemos a ascídia de lado... Ainda lhe quero dizer, numa intimidade quase secreta (afinal todo o mundo lê o que eu escrevo), que vou passar a minha manhã de chuva na pacatez da minha casa (hoje a chuva cai em bátegas de mãos dadas com o zumbido do vento, hoje é inverno?) enrolada na minha manta de lã merina. Céus, sinto-me dança, cada polegada cúbica de espaço é um milagre. Agorinha mesmo, vou comer torradas e beber um café numa chávena requintada em que as minhas mãos fazem de concha, enquanto, aconchegada (ups, outra vez concha) em ternura, profílica me regalo com música bonita. Se hoje, refrescada pelo sono, acordei apetitosa em curvas suaves e linda e de olhos grandes papudos e a acenar com as pálpebras? Então não! Adoro senti-lo impaciente de mim, adiante, só me falta o canto de um estorninho. Que quer sou assim, nasci assim e a minha alma é bela, que se há-de fazer! Ah, não esqueça que eu sou tudo menos ascídia, nunca (nunca mesmo) deixo os meus pergaminhos por mão alheia. Em mim a vida sempre ressuma em autenticidade, bem sabe que assim é, e eu gosto. Ponto.

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