... há muitos milhares de anos, outros humanos fizeram desenhos

Image result for Neanderthal Origin of Iberian Cave Art (Science)
(Mensagem recebida)
Meu admirador estonteado com a imagem que lhe envio, lhe garanto, seja eu ceguinha de gota serena se não é como lhe garanto, lhe garanto que mais estonteada estou eu. Vida, há dias escrevi-lhe (a si), em jeito de legenda a um desenho meu (nos meus desenhos estou sempre eu), isto: "Desenho meu, desenho meu, olho-te e até o silêncio se torna visual! Adiante: a simetria é beleza e harmonia, não esqueça, meu caro admirador de mim, não se esqueça, nunca se esqueça, jamais esqueça...". Antes, tinha eu dado muito boa atenção a tudo o que por aí se faz e diz sobre a existência de vida noutros planetas. Nossa Senhora do Cansaço, até sei o que é a "Equação de Drake" e o "Paradoxo de Fermi"! E também até sei mais (muitas) coisas sobre análises feitas a restos de meteoritos (encontrados na Antárctida) e datados de há mais três milhões de anos, as coisas que eu sei! Adiante. Ontem, dia comprido o meu, no fim do dia noite adentro, com a cabeça feita em água, exausta, optei por tomar um banho regenerador antes de dormir, para depois dar asas a sonhos criativos. Assim foi, assim aconteceu: tomei o ansiado banho; e, depois, vi-me ao espelho (e gostei: o meu corpo é um milenar monólogo com a beleza), digo, vi-me divertida na minha milagrosa túnica azul cerúleo de punhos vincados; logo de seguida, aninhada, sonhei sonhos com silêncio e simetria e beleza e equilíbrio (sonhos tipo eu, óbvio). Quando acordei é que foram elas, nem lhe digo e nem lhe conto. Ia eu ia eu, linda e atrasada, à cata do meu café matinal; e, direitinha a mim, lampeira, vinha a capa da revista Science. Olhei, folheei, pesquisei, pensei: pimba, andam uns a debitar que não estamos sozinhos no Universo e afinal descobre-se (só agora, mesmo agora) que não estivemos sozinhos neste nosso planeta Terra. Calma, tenha calma, não se amofine, eu explico; mas, primeiro, oiça e veja aqui a descoberta de um desenho (rabiscado por Neanderthais) numa caverna. Adiante, vamos lá, foi assim comigo... Poisei no desenho os meus olhos faróis e lupa, e resmunguei: pode lá ser, aquilo é estilo meu, os pontinhos sem tirar nem pôr, os degraus da escada, claro, uhm, a figura elegante, dança e desliza e voa e mostra que tudo se transforma, sugere o impossível calculando teoremas, será? Ainda nem caibo em mim, alegria minha! A certeza com que fico é que o mar existia antes da primeira jangada. Sabe que mais, meu admirador de mim, a Terra continua sempre incógnita e perplexa, mas se a ela regressarmos, sempre dela escutaremos coisas nossas, coisas do tempo. Sei eu lá bem porquê, lembrei-me agora que uma forma exacta de medir o tempo é ouvir o gotejar da água para uma ânfora. A sua mania da poesia (rimou, ups) pega-se, mas eu gosto e gosto. Registe finalmente, meu admirador (mais que ciumento), registe para memória futura que há milhares de anos, outros humanos (rimou de novo) fizeram desenhos nas cavernas. Se as cavernas de hoje são tipo caderninhos argolados, onde moram os segredos guardados para um futuro próximo? Então não! Claro! Eu que o sei, eu que o digo!
Adenda
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